Nudez Emocional - Alain de Botton

Eu adoraria saber a explicação plausível para minhas indecisões, mas não sei. Gostaria muito de ter plena certeza dos "nãos" ou simplesmente assumir as escolhas positivas. É muito estranho negar com a boca e consentir com o coração. Ganhei um livro da minha amiga Andréa, e vou transcrever um trecho dele aqui para retratar meu estado atual, talvez consiga explicar.

(...) O que torna a nudez emocional mais difícil de ser detectada é sua falta de definição. Estar fisicamente nu é um fato visual - e, por tanto, pessoas recatadas podem ser facilmente encurraladas e ter suas roupas escondidas por moralistas contemporâneos do prazer, que cultuam a naturalidade física. Mas, porque o ego está incluso no corpo, a timidez emocional pode levar mais tempo para ser identificada e desnuda, embora possa haver, sob este aspecto, tantas ou mais pessoas pudicas.

A nudez emocional gira em torno da revelação da franqueza e das deficiências de uma pessoa com relação a outro ser humano, uma dependência que nos priva da capacidade de marcar presença de alguma forma que não seja através do mero fato de existirmos. Não podemos mais mentir ou nos jactar, nos vanglorias ou esconder atrás de palavras bonitas. (...)

(...) Eu me desnudo emocionalmente quando confesso minha carência - que estarei perdido sem você, que não sou necessariamente a pessoa independente que tentei aparentar. Na verdade, não passo de um fraco, cuja noção dos rumos ou do significado da vida é muito restrita. Quando choro e lhe conto as coisas que, confio, serão mantidas em segredo, coisas que me levarão à destruição, caso terceiros tomem conhecimento delas, quando vou a festas e não me entrego ao jogo da sedução porque reconheço que só você me interessa, estou me privando de uma ilusão há muito acalentada de invulnerabilidade. Me torno indefeso e confiante como a pessoa no truque circense, presa a uma prancha sobre a qual um atirador de facas exercita sua perícia e as lâminas que eu mesmo forneci passam a poucos centímetros da minha pele. Eu permito que você assista a minha humilhação, insegurança e tropeços . (...) Aprendi a aceitar o enorme risco de que, embora eu não seja uma pessoa atraente e confiante, embora você tenha a seu dispor um catálogo vasto de meus medos e fobias, você pode, mesmo assim, me amar.

Página 160 do Livro O Movimento Romântico de Alain de Botton

Bruna T
Enviado por Bruna T em 24/07/2010
Código do texto: T2397526
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