Somos distraídos...

Distrair é pensar em algo que nós não sabemos muito bem o que é, já percebeu?

Se distrair é como aquele barco que perde a direção da ilha, ou um carro desgovernado que bate em um poste.

Distração devia virar um sentimento, porque ele causa dentro de nós e de outros um certo desconforto.

Perceba por exemplo quando a mulher chega em casa com os cabelos cortados ou pintados e seu esposo não percebe que ela fez aquilo tudo na realidade para ele notar algo diferente nela, ou quem sabe para se sentir melhor. Na realidade a mulher estava ali toda bela para seu esposo e então se queixa no final do dia: " Você é muito distraído!" E ele pergunta: "Por quê?", e então ela reclama que ele não sequer olhou para seu novo visual. Existe então aquela frase: "Eu estava distraído! Foi apenas distração!"

Distração já levou muita gente a se separar em uma relação. Distração já levou muitos romances lindos a terminarem. Ás vezes a moça se distrai tanto com suas amigas que deixa de lado o pobre namorado. Ás vezes o rapaz se distrai olhando a roupa tão sensual da mulher, e esquece que do seu lado tem outra que precisa dele. Na realidade ele se distraiu, e perdeu a vez.

Vai entender as nossas distrações não é verdade?

Quantos amigos eu já perdi me distraindo.

Distrair em deixar de ajudar em algo, ou porque esquecia simplesmente de ligar de vez em quando para eles, ou daquelas datas tão importantes como aniversários, vitórias que eles conseguiam ou até mesmo momentos de tristeza que eu deveria ter ficado com cada um deles. Ficar distraída com si mesmo é o pior de todos os defeitos.

E distrair-se é justamente a perda que causa dentro de nós e o que fazemos perder no outro também.

Distrair portanto é perder o costume daquilo que já estamos de fato acostumados, mas que não percebemos. Conviver nos deixa distraídos.

Santo Agostinho dizia que o costume, mata o êxtase. E é verdade e uma realidade que devemos notar.

Nos acostumamos sempre a ligar o nosso carro e seguir na mesma direção, mas não observamos ás vezes por onde estamos passando e quem passa por nós, mas porque nos distraímos. Nos acostumamos com o namorado, com os amigos, nos acostumamos com as pessoas, com a nossa família, a nossa casa, o nosso trabalho, e por nos acostumar, matamos o encanto, o êxtase de viver e de fazer o outro mais feliz.

Nos distraímos com as coisas desnecessárias e abrimos espaços para as nossas dependências afetivas ou materiais.

Distrair é deixar de lado a simplicidade, o coração necessitado ou muitas vezes um defeito que precisamos corrigir em nós com o passar do tempo.

Preciso não me distrair mais, e percebo isso a cada dia de minha vida.

Não posso mais me distrair em elogiar alguém, dizer que amo com o coração aberto. Não posso mais me distrair não notando o brilho das flores, o rio que passa, a tarde que cai, as manhãs que nascem tão diferentes todos os dias.

Não posso mais me distrair com meus problemas, minha vida tão egocêntrica. Não posso me distrair em contemplar o ser humano, os gestos simples, as emoções.

Não posso me distrair com o amor, o perdão e a amizade.

Não posso me distrair com o belo mar que faz barulho, e as estrelas tão silenciosas coladas na escuridão do céu.

Não posso me distrair mais com minha família, como eles precisam de mim, e eu fico aqui tentando me acostumar com o jeito de cada um.

Não posso me acostumar, me distrair com a lua ou com o sol, se eu não tiver amor dentro do meu coração.

Não posso me distrair com as borboletas e a cor delas, se eu não tiver carinho e respeito com o ser humano.

Não posso me distrair tanto assim, se eu não conseguir absolutamente a ser alguém melhor.

Roberta Mendes de Araújo
Enviado por Roberta Mendes de Araújo em 29/07/2010
Reeditado em 29/07/2010
Código do texto: T2406063
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