Sobre o poder

Wilson Correia

“Pois bem, temos aqui outra tarefa para a educação (...): ensinar a trair racionalmente, em nome de nossa única verdadeira pertença essencial, a humana, o que haja de excludente, fechado e maníaco em nossas afiliações acidentais, por mais confortáveis que estas sejam para os espíritos acomodados, que não querem mudar de rotinas ou arranjar conflitos” (SAVATER, F. O valor de educar. Trad. M. Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 192).

A democracia é a forma de governo que se assenta sobre o conflito, feito de múltiplos embates entre humanos visando à conquista e ao exercício do poder. Assim, o poder não se identifica com um lugar, uma pessoa, um grupo, uma instituição social; o poder é relação. Vazio é o seu lugar, exato para garantir a rotatividade daquelas forças que pleiteiam a conquista e o exercício do poder. Poder que, para além de se prestar à garantia de interesses excludentes, fechados e maníacos, pode e deve ser serviço em prol de nossa humanização, pertença em nome da qual somos convidados a usar a razão para trair em proveito da nossa educabilidade.

Nessa perspectiva, a luta pelo poder é, em verdade, luta entre concepções de poder. Há entre nós quem pense que o fechamento de um (indivíduo, grupo, gueto) deve ir até onde começa o muro do outro; e há, entre nós, quem pense que a liberdade da pessoa e do profissional pode ir até onde vai a liberdade de outrem, exato para se formar uma sociedade de pares colaborativos, unidos pelos laços do interesse que brota do respeito pela coisa pública e pelo bem comum.

Na luta pelo poder, que o bom senso abra as asas sobre nós!