A NASCENTE DA VIOLÊNCIA

É certo que uma parte do caráter do indivíduo nasce com ele, uma fração de suas virtudes e manias, algo que o identifica com os familiares biológicos mesmo que não tenha sido criado com eles. Porém, mesmo os irmãos possuem características diferenciadas, o que se dá pela variedade de caracteres que compõe a árvore genealógica. Mas, vários irmãos também manifestam concordância de caráter, o que se dá pela repetição da coincidência genética.

Outra fração da identidade familiar é aprendida na educação e convívio, compondo-se daí de características da família adotiva, se for o caso. É certo também que todos nascem com potencial para a violência, inerente no instinto de auto preservação ou preservação dos seus. Tal instinto se mantém vigilante, reagindo de diferentes formas a todo ataque, manifestando níveis variados de violência. É assim quando se leva um susto. O grito agudo da mulher é uma reação violenta, que, não necessariamente resulta em contra-ataque. O sobressalto é uma reação violenta, pois sente-se a violência dentro do corpo, principalmente na freqüência cardíaca.

Em regra, contra-ataca-se quando há ameaça, ou entende-se que há, e na repulsa à ameaça o instinto pode produzir desde um argumento racional em defesa da reputação, passando por palavras agressivas, chegando à agressão física violentíssima, resultando, por vezes, na morte do agressor antes que o cérebro volte ao estado emocional equilibrado em que a razão assume o controle.

Os níveis de violência nas reações, a intensidade das reações às agressões não são iguais, variando nos indivíduos. Em alguns uma piada pode provocar um assassinato, enquanto em outros, uma resposta verbal, podendo revidar com outra piada, uma argüição contundente, ou palavras agressivas. Há muitos, porém, que responderão de forma inversa à agressão, revidando com silêncio (guardando o rancor para o somatório final, “pondo no caderno”), ou perdoando e esquecendo a agressão de um tudo, levando em conta ou não a gravidade da agressão, variando também isto entre os indivíduos. Destas pessoas se diz que possuem “sangue de barata”. Todavia, não é assim, mas uma questão cultural, questão de prática. Portanto, se a violência é natural ou aprendida a resposta é: os dois.

A violência é inerente nos seres humanos, é latente, querendo dizer que está escondida, por causa de nosso instinto de auto preservação. Ela pode manifestar-se e predominar, mas isto “depende” também de muitos fatores.

O filho de pais violentas pode trazer tendências hostis, que se manifestarão mesmo que seja criado com outra família, mais serena, percebendo-se sua personalidade mais enérgica, mais ágil, talvez, mais eufórica, com certa intolerância à morbidez e à inércia, com grande propensão a irritabilidade, podendo vir a agir ou não com níveis mais elevados de violência, mas as possibilidades são pequenas. Ao contrário, porém, se for criado e educado pela família genética violenta a possibilidade de tal agilidade produzir violência será infinitamente superior, pois ser-lhe-á incutida, terá exemplos, experimentará o sabor amargo da intolerância, não só em casa, mas na comunidade, bem como na escola e até na religião, se fizer parte de uma. Por outro lado, filhos genéticos de pais pacíficos poderão também tonar-se violentos se vierem a conviver com a violência. O violento é alguém em estado permanente de defesa.

Mas pode-se aprender a controlar as emoções, o próprio instinto de sobrevivência, mesmo frente a uma ameaça iminente. Supomos que se sofra uma agressão de dez pontos de gravidade. Se a resposta se fizer com naturalidade, ocasionará uma reação de defesa de dez pontos de violência, a tensão muscular será equivalente a dez pontos e o organismo reagirá com igual equivalência, sendo que a dor produzida pelas contrações serão equivalentes a dez pontos. Mas se aprende-se a administrar as emoções, a mesma agressão de dez pontos produzirá reação de defesa de cinco pontos de violência, a tensão muscular será também de cinco pontos, o organismo reagirá de igual modo, sofrendo menos, acumulando menos ressentimento para as reações futuras, pois não existe violência sem causa. Em regra, o que se manifesta violentamente acumulou ressentimento equivalente.

Aprendendo a administrar as emoções pode-se reduzir ainda mais os níveis de violência das reações, chegando ao “sangue de barata”, residindo aí a diferença entre a violência (a guerra) e a paz.

Para isto porém, é preciso dispor-se a não reagir com qualquer tipo de violência, seja ela física, ou verbal, bem como de outra natureza. A reação violenta produz mais indignação no próprio indivíduo, além da indignação que produz no agressor. A violência prática é uma questão cultural, resultante da alimentação (nutrição) de ressentimentos, movida pelo impulso de reação descontrolado, muitas vezes ocasionadas por julgamentos equivocados, por causas que não são causas, mas foram mal entendidas.

Wilson Amaral

Wilson do Amaral Escritor
Enviado por Wilson do Amaral Escritor em 22/09/2006
Reeditado em 25/10/2006
Código do texto: T246676