Princesa das Trevas

Sempre achei sedutoras as histórias do príncipe das trevas, o Drácula. A maneira como ele envolve suas vítimas, sua busca incansável pela sua parceira, a forma como ele se veste, o jeito de abraçar até a mordida que proporciona a vida eterna.

Descobri que me tornei uma espécie de princesa das trevas. Não foi a mordida que me transformou, bastou o olhar. Hoje devo viver na escuridão. Embora ame o sol, meu lugar é longe dos olhares dos outros.

Eu proporciono o mal. Não sou digna dos lares. Não tenho moral para o convívio. Devo viver isolada de todos. Tornei-me a maldade, a falsidade, a má influência. Tenho que me esconder e ser consumida pelo que sou.

Temo um colapso emocional. Sinto dores pelo corpo, minhas mãos tremem, minha boca seca facilmente, meus olhos lacrimejam, minha cabeça dói.

Procuro concentrar-me nas coisas que faço para não enlouquecer.

Não sei como vou me purificar, não sei como nem onde vou me encontrar. Não sei onde nem com quem devo viver.

Como princesa das trevas estou impedida de encontrar a luz. Na luz está a vida e eu não posso chegar lá, não consigo, minhas pernas não me obedecem.

E estou sozinha. Quando procuro alguém para tentar não me consumir, evito mostrar meu mundo sombrio. Ainda tenho consciência de que não posso trazer outros para minhas trevas, não vou aplicar-lhes a minha mordida.

Na maioria das vezes não procuro ninguém. Por que mostraria minhas angústias? Não tenho esse direito. Não sou completamente imoral e egoísta. Ainda conservo um pouco de sanidade, respeito e humanidade.

(PRATA - em 07/09/06)

Cris Marco
Enviado por Cris Marco em 24/09/2006
Reeditado em 24/09/2006
Código do texto: T248494
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