Paisagem sombria
Mórbida paisagem sepulcral, mórbidos devaneios.
Sinto-me desfalecer ao vento que insiste em tocar meu rosto.
Vejo anjos de asas negras, que me convidam incessantemente a segui-los. Há sangue em seus olhos, há lágrimas escorrendo por suas mãos.
A ovelha morta a sua direita não pára de sangrar, o cheiro do plasma quente aguça minha sede. Minhas pálbebras se dilatam, o calor de suas mãos percorre todo meu corpo, sacio-me de tua carne.
Meu organismo em putrefação se assemelha a minha alma perdida.
O sussurro das trevas me atrai, fecho os olhos para que os feixes de luz não me tragam a vida. Me tranquei nesse mundo sombrio, onde rosas negras sangram por seus próprios espinhos.
A imagem rebuscada e errônea do meu reflexo se transfigura no espelho. Um espectro se materializa, não há como fugir do seu rancor.
Atira em mim toda a sua ira, fraquejo, mas estou de pé, minhas pernas estão trêmulas, mas persisto aqui, estilhaços de empatia me cortam, abrindo feridas profundas.
Agora estou a beira de um abismo e não há nenhuma fagulha de esperança.
Talvez eu vá me juntar ao cordeiro que ainda está jogado ao chão e seguir o anjo de trajes negros.
Ensina-me então a ter a alma gélida e chorar lágrimas de sangue ao frio da madrugada, soa em mim a melodia esdruxula, convida-me ao vale do pesadelo.
Pois estou viva no mundo dos mortos e conseqüentemente morta no mundo dos vivos.