Prisão das sensações

Me sinto presa quando faço sem amor. Quando sou obrigada ou quando tenho que fazer porque é automático. Me sinto presa quando também tenho necessidade, de dinheiro, de movimento, de contato humano, de trabalho, de amizade, de amor. Me sinto presa quando penso que o que estou fazendo é ingrato ou monótono ou estranho ou fora do meu mundo. Me sinta presa quando sinto desgosto por algo mas tenho que fazer ou passar por isso. Essa prisão me consome, me irrita, me testa, me destrói, me faz odiar, pensar coisas feias, blasfemar. Jogar coisas na parede, xingar, gritar, pedir socorro, rezar. Penso naqueles que neste momento estão amando o que estão fazendo. Estão rindo por estarem fazendo. Estão chorando pela emoção de estarem fazendo. Agradecendo por terem a oportunidade de poder desfrutar do que estão presenciando. Essa prisão me enlouquece. Quero sair daqui mas não sei como. Dormir e acordar em outro lugar, imaginar que estou num mundo que não é meu mas querer com todas as forças que seja, fingir dentro de mim que tudo isso é um disfarce e que minha vida não é essa, que meu momento não é aqui. Poder perguntar que pessoas são essas e por que estão perto de mim. Essa prisão me amadurece, me entristece e me faz pensar. E eu penso. Penso muito, com a esperança de mudar este cenário só com a força do querer e do torcer,sem me desesperar ou arrancar os cabelos toda vez que abro os olhos e vejo que nada mudou. Assim vou caminhando, sonhando, aprendendo e mudando. Depois de tudo isso já sou mulher, madura, consciente, firme e disposta. Mas ainda sim essa prisão não me esquece, não me larga, não se muda, não sai.

Angélica Nicolosi
Enviado por Angélica Nicolosi em 29/09/2006
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