UM DIA...
Um dia levo-te a dançar num campo cheio de ar
Onde outrora germinavam searas ondulantes
Sem ninguém a ver-te vou pedir que cantes
Uma daquelas tuas baladas de encantar
Um dia levo-te aos becos da minha juventude
Onde uma laranja caída da árvore era um banquete
Nos tempos em que uma sanita era chamada de retrete
Onde ao longe se ouvia o choramingar de um açude
Um dia relembro-te a escolha dos trabalhadores
Naquela praça onde se postava a riqueza e a pobreza
Absurdamente camuflados pela nobreza
Insensível ao sofrimento e aos odores
Um dia reavivarás a tua desgastada memória
Abandonarás o convés onde refugiaste os teus sentidos
Chamarás à razão a época dos tempos perdidos
Um dia… um dia vou recontar-te a nossa história.
Ângelo Gomes