PROCURA POR VOCÊ...

E assim ele a procurava. Não procurava rostos, cabelos, formas físicas, sorrisos — procurava pelos olhos! Aquela seria sua marca. Nos olhos mostraria toda sua sensibilidade, seu carinho, sua afetividade e seu amor. Ele a via nos sonhos, nas visualizações. A tinha no pensamento, fixo e sedento por revê-la.

Ter novamente a seu lado a sua sacerdotisa, aquela que por tantos momentos o acompanhara, por horas, dias, semanas, meses, anos, vidas... Onde estaria aquela vibração leve e alegre, aquele prenúncio de felicidade, aquele resumo do amor e de como amar?

Ele a procurava em cada pessoa, em cada rua, em cada lugar, a cada momento ele relembrava de seus olhos nas montanhas, nas cavernas, nos rochedos, nas escarpas, nos castelos, no mar! A cada dia sem ela a agonia e a inquietação habitavam seu ser, habitavam sua alma! Ele a procurava então, incessantemente, sonhava com ela, sonhava em vê-la sorrir, em receber novamente seus carinhos, seu amor, seu profundo amor! Uma busca frenética, uma busca sem fim, precisava dela assim como ela dele! Completavam-se. Precisavam-se. Queriam-se. Amavam-se profundamente, sinceramente e ele não a tinha. Sequer sabia onde estava ou onde procurar! Mas seguia, continuava, acreditava, e pressentia que a estava mais perto a cada momento! Fazia-se presente e, de alguma forma, de repente, voltaria, reapareceria, trazendo tudo que eles buscavam um no outro.

Mas onde procurar? Que pistas seguir? O que procurar de fato? O que tinha de exato? Nada. Apenas seus olhos — seus lindos e puros olhos.

Ele lembrava dela nas danças ao redor das fogueiras, nos rituais, nos vôos nos céus. Encontros no infinito! Estava de mãos dadas com ela nas perseguições que sofreram, nas iniciações, nos rituais. Mas só tinha dela os olhos. Seus olhos brilhantes. Olhava em cada lugar a seu redor e ela não estava! Mas ele insistentemente sentia sua presença, seu calor! Ansioso por sentir de novo seus braços, suas carícias, procurava por ela nos trovões, nos relâmpagos, nas tempestades, nas calmarias, no vento, nos belos dias ensolarados e quentes, no por do sol, na bela e misteriosa lua cheia, na chuva fina! Ela não estava. Apenas permanecia sua vibração. Mas ele não desistia, perguntava as pessoas:

—Você a viu? A sentiu como eu? E atônito recebia a mesma resposta de muitos.

— Quem? A quem procura? Você a perdeu?

Ele então continuava, olhando nas frestas, caminhos sem fim, vales, montanhas, ruas, cidades, e ela? Nada, nem sinal e ele, quanta tristeza! Mas não desanimava e sua caminhada prosseguia. Ela virá ainda um dia, tenho certeza! Gritava, clamava, chamava por seu nome, que nome? Ele não sabia, somente a sentia! Gritava por seu anjo bom. Que anjo? Um belo e doce anjo de amor, um anjo sem dor, um anjo de luz! A cada dia ela parecia mais irreal! A cada dia ele se distanciava do seu sonho, de sua vida! Sentava, desanimava, caia, levantava, chorava, sorria, parava, prosseguia... Mas não desistia. Desistir pra que? Por que? Como desistir? Ela era importante demais pra ele, pra vida dele, pra dela. Precisavam se rever, se tocar. No mínimo se olhar no fundo, onde o mundo, pouco importaria, pararia diante de tanto amor, tanto calor. Pra ela a sacerdotisa e pra ele o Mago, o buscador.

Buscando em cidades e ruas sua felicidade, seu pedaço, sua quantidade. Andava passo a passo. Corria. Pensava quando será? Será que encontro? Procuro mais ou chega? Pronto. Quem sabe no infinito?

Júpiter que é tão bonito, grande, da justiça!

Ou quem sabe em Marte guerreiro, briguento, aceso.

Já sei. Em Vênus: - sentimento, acalanto, descanso.

Mas poderia estar em Urano: - diferente, mutante a veria repentinamente ou por trás de um verdadeiro tufão!

A encontraria, quem sabe em Plutão - mágico, místico, sensual, sexual, afinal fazer amor gostoso nunca fez mal.

Procuraria em Saturno: — calado, frio, taciturno... Um esforço diuturno.

Procuraria no mar, no rio, sem progresso. Tentaria sem sucesso! Quem sabe teria mais sorte em Netuno.

Ele a procurou no mental. Foi ao netuno espiritual. Ficou de frente com a morte, mas também não estava.

Ficou sem rumo, sem norte! Voltou. Procurou em palavras, versos de Mercúrio. Pediu clemência a sua perfeita inteligência. Curvou-se. Foi e voltou na elipse planetária. Escala de si bemol. Só faltava o Sol. Com certeza ela lá estaria junto do brilho, da cor do sucesso, da cor de ouro, reluzindo, brilhando, esperando, por seu amado, seu Mago apressado por fazê-la feliz, e tornar a alegria sem fim. O sol disse a ele: — Esteve aqui, passou... Esperou, cansou e você não chegou!

Então ele perguntou:

— Onde procuro agora? Um toque, uma dica!

Ela não estará no ar, no fogo, na água ou na terra. Procura em vão! Olhe bem perto, ou a busca se encerra, não olhes do lado, em cima, embaixo, não suba, mas desça. Pense na criação! Olhe pra dentro e feche os olhos. Ela está de onde nunca saiu, onde sempre esteve mesmo nos momentos mais difíceis, na toca do sentimento, no habitat da verdade. Corres a toa, choras sem necessidade! Gritas ao vento, lutas em vão.

Ela está de onde nunca saiu, um só momento. Feche os olhos. Ela está em seu coração, aquele coração que ama sensível, lindo, bonito igual ao dela! Vocês são unidos, um só como carne e unha, como o ré e o dó de uma melodia, uma escala musical. Suas vidas sempre perto, angelicais! Na relva verde ou no deserto sempre um estará do outro perto. Lembra. Acredita nada os separa nem de noite, nem de dia! E vê se você, munido desta sabedoria, encontra o caminho alegre e sorria, pois quem sabe um dia, quando já não achares mais possível, aparecerá! Se mostrará outra vez e lá estará ela. Aparecerá novamente.

E ela se mostrou. Materializou-se. Ele que já havia desanimado explodiu de felicidade! Como criança, sorria e perguntava: — É você? Está de volta?

Ela dizia: — estou sim. Aqui sozinha, esperando você. Mas venha me pegar, venha ter de volta o que sempre foi seu por momentos, por dias, semanas, meses, anos, por vidas sou sua. Só sua. Sempre fui. Estou aqui por você, pra você! Venha que te espero. Venha que te quero. Venha me invadir com seu amor. Venha você que é exato, encantando, medida certa para meu contentamento. Venha meu amor, venha. Vivamos mais esse momento!

Ele mesmo cansado de tanto procurar revigorou-se pela possibilidade de tê-la novamente em seu braços por completo e poder desfrutar novamente de seus carinhos, Correu, gritou, sorriu, alegre como criança!Chorou e estava pronto a ir ao seu encontro! Um encontro sagrado tramado em rima e verso pelo infinito, pelo universo!

Venha que não mais agüento sua falta e tanto sofrimento! Como te busco? Como te encontro? Pensou: —Como vou achar você?

Ela disse:

— Venha por meus olhos... Você os conhece tão bem quanto eu aos seus.

E assim fizeram. Marcaram, combinaram, acertaram e resolveram se buscar, se reencontrar. Teriam de volta o que lhes fora tirado - a companhia doce com sabor de pecado, a amizade, o carinho, os afagos, o sentimento, o amor! Ela disse: venha, feche os olhos e venha.

E ele foi. Viajou algumas horas. Sua ansiedade tornou-se dias, séculos. Ao chegar pensou: —Ah! Vai ser fácil. Ela deve estar sozinha me esperando. Mas algumas centenas de pessoas estavam talvez na mesma procura que não a dele mas de suas próprias vidas. Caras metades, companhias de seus próprios olhos. Olhou ao redor. Percorreu distâncias ao redor onde suas vistas cansadas e marejadas pelo choro não conseguiam ver nada. Olhou de novo, circundou a si mesmo numa ansiedade mórbida pelo medo de não reencontrá-la. Quando já se pensava derrotado, deparou se com aqueles olhos! Somente os olhos conseguia ver olhando também em sua direção. Buscou fôlego engolindo um choro alegre. Direcionou-se para aqueles olhos lindos que sempre tinham estado nos seus sonhos e agora estavam ali tão pertos! Tão maravilhosamente próximos. Caminhou sem deixar de fitá-los! Aproximou-se e disse: — É você? É você que eu tanto busquei por vidas, por uma eternidade? É você que embalou meus sonhos, minhas alegrias e me manteve sedento de viver por vidas a fio, que me fizeram lutar, brigar, matar e morrer? Por você eu vivo, por você eu continuo! É você mesmo?

Os mesmos olhos que ele tanto procurou, aqueles olhos lindos e pequeninos, apertadinhos fitaram-no fixamente e neles percebeu o brilho do reencontro,

Enternecida, feliz, com os olhos embebidos em lágrimas de felicidade ela disse: — sim meu querido sou eu meu amor eterno, minha alegria por vidas, meu amor infinito que tanto procurei, que tanto sinalizei para que viesses me buscar, para que viesses me resgatar a vida, à vontade de continuar caminhando! Fizesse renascer o carinho, a sensibilidade, o sentimento feliz dentro de mim. Sim sou eu! Não sabe o quanto esperei por isso!

Olhando se um para o outro se entrelaçaram em um enorme e profundo abraço, afagos, carícias exalando o mais puro amor enfim de volta! Enfim se encontraram! Desvendaram ali o eterno segredo, o verdadeiro sonho resgatado, o brilho silencioso dos olhos! Calaram-se as perguntas! Fortaleceram-se num terno abraço, num meigo sorriso, num doce afago, num fascinante carinho! Estimularam-se em caricias plenas o eterno e profundo amor apaixonado! Aquele que não morre! Aquele permanentemente vivo, forte, mágico, estimulado apenas por suas lindas almas insistentes em permanecer unidas resistindo a tudo... Até a morte! Unidos que estavam por um amor nobre, puro e imortal.

Eros kamadeva***®