A MATEMÁTICA DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

Se a distribuição de renda fosse um pouco maior, os trabalhadores empregados poderiam trabalhar menos, reduzir a carga horária, abrindo novas vagas para os trabalhadores desempregados. Se os empresários concordassem em reduzir a carga horária do trabalhador empregado em apenas uma hora por dia sem reduzir-lhe o salário, já haveria um aumento na distribuição de renda e uma empresa de sete funcionários abriria uma vaga, representando um aumento de mais de 14,28% no seu quadro de funcionários. Num total de um milhão de funcionários trabalhando, se abririam mais 142.857 vagas, isto sem ter havido necessidade de aumentar a produção. Se cada um desses novos empregados recebessem por seu trabalho apenas um salário de R$ 500,00, seriam R$ 71.428.500,00 lançados no mercado todo o mês, ampliando consideravelmente o consumo de produtos básicos e gerando necessidade de aumento de produção, que requereria outros novos funcionários. Numa cidade com a população média de 1.400.000 habitantes, mais ou menos como a população de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, com em torno de 226.907 pessoas ocupadas, somente a redução da carga horária abriria em torno de 32.402 novas vagas, que representaria mais R$ 16.201,000,00 circulando no mercado todos os meses, chegando a R$ 194.412.000,00 anualmente. Isto projetado a partir de um valor tão pequeno quanto a redução de apenas uma hora na jornada diária de cada trabalhador.

Os empresários teriam um aumento significativo nas vendas de produtos já circulantes, não tendo que arcar com os custos de criar novos produtos, testá-los, treinar funcionários, montar novas linhas de produção, gastar com a mídia, etc., para criar novas necessidades de consumo e aumentar o faturamento. As pessoas não teriam tantos badulaques para adquirir e logo perder o gosto e isto teria um notável impacto positivo sobre o meio-ambiente, pois menos produtos novos seriam criados para criar novas frentes de trabalho com vistas em reduzir o desemprego e menos novidades seriam adquiridas porque haveriam menos ofertas delas no mercado. Sendo assim, menos os produtos seriam superados e menos seriam descartados por estarem ultrapassados. O aprimoramento da tecnologia daria passos mais longos, chegando ao mercado em espaços de tempo maiores, mas trazendo tecnologia muito mais evoluída. Isto reduziria o descarte, que polui a natureza, ao mesmo tempo em que haveria menos necessidade de exploração do meio-ambiente em busca de nova matéria prima. Sem contar o benefício direto no sistema emocional da população, por reduzir o estresse por consumo que tantos males produz.

É inacreditável que com apenas uma ação se produziriam tantos benefícios, pois se aumentaria a distribuição de renda, criando novos empregos, aquecendo o mercado e reduzindo o impacto da produção e consumo sobre a natureza, reduzindo em muito a velocidade com qual caminhamos para a hecatombe final. Sem contar o caos existencial que as novas necessidades de consumo supérfluos acarretam sobre os indivíduos e suas famílias.

Não precisamos criar necessidade de consumo do que não é necessário para criarmos emprego e renda. Ao contrário, aumentando a distribuição de renda, aumentaríamos o consumo dos produtos básicos, podendo até reduzir o número de supérfluos que se produz com vistas em aumentar o consumo. O simples aumento do consumo de produtos necessários criaria novos empregos, que geraria mais renda, mais consumo e mais necessidade de produção. Isto não pararia nunca e não precisaríamos exaurir nosso planeta e levar nossa casa à bancarrota. Entretanto, isto só aconteceria numa sociedade ideal, como a do livro A Menina do Rabicó Azul, de Delmar Moraes, nosso amigo Casquinha. Isto é utópico, porque a ganância sempre achará desculpa para estar presente na sociedade humana dirigida pelos seres humanos.

Pense nisto.

Wilson do Amaral