O MEIO DA VIDA...
Há montanhas que por mais que escaladas ficam sempre a meio
Há corridas que por mais conseguidas nunca chegam ao fim
Não será por cobardia, indulgência ou receio
Mas porque os patamares do sonho funcionam assim
Há choros que por mais que lavados nunca limpam a face
Há dias que por mais que dourados nunca atingem o brilho
Há avenidas pelas quais passeio e por mais que lá passe
Jamais lhes consigo decorar o sentido, a rota ou o trilho
Há peles que por mais que esticadas não escondem a dor
Há olhos que por mais que abertos só vislumbram metades
Como as paixões que por mais que ditas não retratam amor
Ou a hipocrisia de quem grita aos ventos falsas saudades
Há sóis que por mais que escaldantes nunca nos aquecem
Há gestos que por mais que expressivos não são entendidos
É o meio da vida por que muitos passam mas não transparecem
Porque se diz que o normal é viver, mesmo que perdidos.
Ângelo Gomes