MÁGOA...
Mágoa, é quando sentimos aquela dor no peito
Não é física, mas fere como arame farpado
E então se nos expomos ao seu jeito
Rompe-nos o todo à cadência de um arado
Mágoa, é querermos falar e a garganta ficar presa
É querermos gesticular e a mão manter-se inerte
É lutarmos com desespero e ficarmos sem defesa
É magoarmos outros que sentem prazer em ver-te
Mágoa, é tentar abrir poços em terreno de secura
É sentir o desprazer por quem de nós se aproxima
É ficar lento, circunspecto, imune à abertura
É frase inexplicável num poema que não rima
Mágoa, é ir ao cinema só para ocupar a cadeira
É olhar à volta e ver um Mundo inacabado
É erguer os braços com desdém de quem bem cheira
É pisar árduos caminhos e sair mais magoado.
Mágoa, é bala de alto calibre ferrugento
É mar revoltado com correntes sem regresso
É estado ambíguo que não devia ter assento
A condenar sem julgamento nem processo.
Ângelo Gomes