MÁGOA...

Mágoa, é quando sentimos aquela dor no peito

Não é física, mas fere como arame farpado

E então se nos expomos ao seu jeito

Rompe-nos o todo à cadência de um arado

Mágoa, é querermos falar e a garganta ficar presa

É querermos gesticular e a mão manter-se inerte

É lutarmos com desespero e ficarmos sem defesa

É magoarmos outros que sentem prazer em ver-te

Mágoa, é tentar abrir poços em terreno de secura

É sentir o desprazer por quem de nós se aproxima

É ficar lento, circunspecto, imune à abertura

É frase inexplicável num poema que não rima

Mágoa, é ir ao cinema só para ocupar a cadeira

É olhar à volta e ver um Mundo inacabado

É erguer os braços com desdém de quem bem cheira

É pisar árduos caminhos e sair mais magoado.

Mágoa, é bala de alto calibre ferrugento

É mar revoltado com correntes sem regresso

É estado ambíguo que não devia ter assento

A condenar sem julgamento nem processo.

Ângelo Gomes

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 02/11/2010
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