Crianças leves; adultos consistentes

* Como é bom ser criança e se esconder por puro divertimento, e não por medo ou vergonha do passado.

* Como é bom correr livremente, estampando sorrisos com o vento no rosto, tendo como única preocupação a brincadeira. Quando adulto corremos de tudo. Fugimos dos estranhos conhecidos que não queremos reativar relações. Adiamos reencontro, evitamos conversas sinceras e escapamos dos comprometimentos – por simples pavor de nos aprofundar. Tudo é corrida na vida adulta, acordamos atrasados, corremos para trabalhar, corremos para pôr a comida na mesa. O sustento exige velocidade nesse mundo de concreto.

* Crianças não. O mundo delas ainda é leve, despreocupado, há sinceridade nos gestos e, por muitas vezes, aprendem mais do que é simples. A fantasia é forte no imaginário infantil. A fantasia é elemento necessário para suportar a realidade. É esse mundo de possibilidades que torna a infância a fase boa. Eles olham para o lado bom, isentam a maldade. Sabem que existe tanto o bem quanto o mal, mas acreditam que o primeiro vencerá. São assim os pequenos. Entendem mais da profundidade, dão valor ao brilho do sol e a plantinha que vai crescer, sorriem com o cotidiano enquanto este nos esmaga.

* Como é bom ser criança e prolongar as horas de sono, estender a brincadeira, não deixar de dar pulos por receio. Para adultos qualquer baque ou chance de queda mais alta é motivo para recuar. Os pequenos não. Eles estão ali justamente para cair, chorar e depois rir do acontecido. Se machucam muito, é verdade, mas aprendem. E somos nós mesmos que ensinamos tanto a eles, tentamos transmitir conhecimentos para elevar a educação. Acreditamos que aquelas criaturas ainda são imaturas. Mas compreendemos pouco e carregamos menos ainda de todos os ensinamentos que procuramos passar.

* Os imaturos somos nós que trazemos medos por tudo. Desaprendemos a brincar, receamos tanto chuva quanto sol, abdicamos de nossa liberdade.

* Fazemos quase tudo o que criança faz, porém perdemos o essencial. Ainda corremos, ainda nos escondemos, ainda pulamos. Mas tudo por obrigação, sem sorrisos. Esquecemos o fundamental, esquecemos de sorrir e sonhar. Deixamos de acreditar que é possível prevalecer o bem.

Priscila Silvério
Enviado por Priscila Silvério em 15/11/2010
Reeditado em 20/06/2011
Código do texto: T2617008
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