CEGAMOS TODOS

Caminho por entre escombros e paredes

e arranco aos olhos a ferida, para que possa ver alguma beleza aqui.

Mendigos intransigentes, estendem a mão etérea,

no vazio de nossas consciências e de nossos problemas caseiros.

Muralhas caem, desfazendo castelos antigos,

só nós, que somos pomposos demais, mantemo-nos de pé, ante a peleja.

É que o «coto» é precioso demais e é preciso

procriar e ter descendentes, que sigam nossos passos nos lustrosos vitrais.

Homens sem membros, percorrem a cidade,

com esforço, dirigindo-se para os escritórios, como olhos de mosca.

Estatuetas e quadros, nos pregos das paredes,

exibem, para que todos vejam, a sua glória mumificada e poeirenta.

Aqui só entram os familiares e os filhos incestuosos –

é impossível haver misturas de sangue, só a congeminação é possível.

Estes são os novos patrões, que dão lugar ao imiscível,

e o lápis azul funciona de novo, para rasurar o que não lhes interessa.

É a inquisição no seu mais alto expoente, que

controla os jornais, televisões e rádios, num retrocesso a Salazar.

Jorge Humberto

03/12/10

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 03/12/2010
Código do texto: T2651781
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