NÃO REPARES...

Não repares em mim quando não me soa a voz do coração

Vê-me como uma árvore despida no auge do Outono

Folhas caídas, ramos emagrecidos, a viver um sono

À espera das chuvas esperadas na próxima estação

Não repares em mim quando não me ouvires respirar

Quando o bronzeado do Verão paulatinamente desaparece

Finge que observas uma montra imaginária e esquece

Já que o EU que conheces está em fase de hibernar

Hibernar juntando-me à opacidade que me rodeia

Deixando-me enlear nos tentáculos sedosos de uma teia

Ocultando temporariamente a força e o alento

Quero descobrir se sou feito de metades ilegíveis

De pedras de labirinto, frias, insensíveis

Por isso não repares enquanto luto contra o vento.

Ângelo Gomes

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 05/12/2010
Código do texto: T2655095