NÃO REPARES...
Não repares em mim quando não me soa a voz do coração
Vê-me como uma árvore despida no auge do Outono
Folhas caídas, ramos emagrecidos, a viver um sono
À espera das chuvas esperadas na próxima estação
Não repares em mim quando não me ouvires respirar
Quando o bronzeado do Verão paulatinamente desaparece
Finge que observas uma montra imaginária e esquece
Já que o EU que conheces está em fase de hibernar
Hibernar juntando-me à opacidade que me rodeia
Deixando-me enlear nos tentáculos sedosos de uma teia
Ocultando temporariamente a força e o alento
Quero descobrir se sou feito de metades ilegíveis
De pedras de labirinto, frias, insensíveis
Por isso não repares enquanto luto contra o vento.
Ângelo Gomes