Poeta, não Poetisa!

Quando criança aprendi que o feminino acertado de poeta seria poetisa. Para mim era estranho: Como uma palavra que soava feminina possuía uma versão ainda mais fêmea? Já que me ensinaram assim, passei minha vida escolar utilizando "corretamente" a palavra e incomodando meu íntimo.

Foi lá pelos 15 anos que me despertei para poesia. Comecei a escrever, arriscar-me a juntar palavras em busca da expressão. A cada nova letra, novo verso, sentia-me viva e instigada a continuar - fossem eles bons ou não. Ao começar mostrar meus trabalhos logo vinha a palavra que cortava minha alma: Poetisa. Internamente eu gritava: "Poeta, não Poetisa!"; Por fora sorria e agradecia as críticas.

Talvez seja tolice minha reclamar da denominação, mas, não vejo como haver distinção entre os versos de um homem e os versos de uma mulher. Um verdadeiro poeta, para mim, é um ser amorfo e sem gênero, capaz de provar das nuances do mundo por si e não pelo seu sexo. Ademais, poetisa parece delicado demais para o que sinto e desejo falar.

Há 10 anos ousei entrar nas veredas do mundo literário (amador) e, neste período, por diversas vezes esbarrei com opiniões limitadas sobre a escrita feminina - como se houvesse outra forma de escrita que a pessoal - definindo a sua forma como leve, frágil, delicada, romântica, e por assim vai. Entendo que, de certa forma, exista uma diferenciação entre a visão feminina e a visão masculina do mundo. Contudo, maior diversificação que esta é a postura de cada ser humano em particular. Eu pressinto o universo de forma completamente estranha a sua (seja lá qual for seu gênero). No rodapé de meu blog jaz uma frase de Lya Luft que muito idetifico-me:

"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem."

Complemento Lya: Eu quero escrever com o vigor de minha essência. Não me interessa escrever como mais ninguém. Hoje a gramática é mais aberta, assumindo as duas formas - poeta e poetisa - como corretas. Todavia, creio que o segundo vocábulo deveria ser abolido. Ao menos enquanto escrevo não quero ser tratada pelo meu sexo.

Não sou poetisa,

Sou Poeta!

* Publicado originalmente em:

http://nascidaemversos.blogspot.com/2010/12/poeta-nao-poetisa.html

Karla Hack dos Santos
Enviado por Karla Hack dos Santos em 15/12/2010
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