Fluidez
(Najah ÐL®)
Hoje o céu chora. Tantas lágrimas como se pudesse lavar o asfalto do desamor, como se pudesse inundar corações-bueiros livrando-os da sujeira dos ódios e dissabores.
Hoje o céu desaba suas águas como a varrer o ar, purificando. Como a levar todas as dores aos rios que, por sua vez, irão desaguar nos mares e estes, levarão ao profundo do nada a que sejam esquecidas.
Hoje o céu não se contém e chora. Expurga através das águas o que elevou-se ontem. Devolve em gotas todo o etéreo, fluído, sublimado, conspurcado, mistificado, insólito que invadiu seu território criando as esparsas nuvens brancas. Nuvens-meninas, nuvens-aprendizes, nuvens-sem-sentido, nuvens-atávicas.
Amanhã haverá sol, talvez. Mas antes haverá a noite e as estrelas no céu de uma boca. Sempre um reinicio no processo infindável; eleva, cria, desmonta, derruba, esquece, eleva, cria...