Irresponsável ajuda

Existem atitudes que aparentam ser positivas, mas que inoculam o vírus do atraso, da involução.

Há indivíduos que não conseguem abrir caminhos quando mergulhados na densa selva da vida, que exige crescimento, decisões e principalmente iniciativas.

Uns optam por humilhar-se, acreditando estarem se humildando.

Outros. Seres amorais, desconhecedores do discernimento e do bom senso se entregam por completo à humilhação e tornar-se-ão dependentes crônicos. Dependência essa que quase sempre agrega outros ingredientes como: pequenez de caráter, comodismo, inércia, oportunismo...

O fato é que na outra ponta da corda - do cabo de guerra - existem pessoas que gostam de ajudar ao próximo. Muitos desses colaboradores, imperceptivelmente se mascaram com o engrandecedor e nobre título de caridosos, sensíveis e piedosos para sorverem o prazer de dar prazer.

Proporcionar alegria e satisfação a quem já não mais se recordava dessas emoções é algo extremamente gratificante. Portanto, talvez seja mais prazeroso dar que receber!

Dar só para obter o prazer de causar uma ligeira alegria, impossibilitando o dependente de crescer, é na verdade puro egoísmo, pois o colaborador não se preocupa se sua ajuda será mais um tijolo que emparedará o outro no calabouço da dependência.

Ele quer ver a satisfação estampada no rosto daquele “pobre coitado”, pois ele anseia sentir o prazer de fazer o outro sorrir. Muita das vezes pouco se importando com o sorriso do outro, mas sim com prazer que esse sorriso vai lhe proporcionar.

A responsabilidade tem de estar em todas as minhas atitudes.

Contribuir para atrofiar o próximo é algo bizarro e mesquinho, principalmente quando essa atrofia é causada pelo funesto prazer de massagear meu ego.

Um homem extremamente culto, mesmo estando maltrapilho, continuará culto, ao passo que um imbecil, envolto pela mais cara e nobre vestimenta, não terá sua essência alterada.

Fazer germinar é mais trabalhoso, mais demorado e muito mais complicado.

Não há como colher mangas perfumadas e açucaradas de uma mangueira que ainda não saiu do caroço.

Dar um sorriso de satisfação por ter recebido algo é absolutamente comum, principalmente nos vassalos da dependência. Mas colaborar para que esse se mantenha distante da independência, é uma irresponsabilidade muito grande.

O ser humano não deve tornar-se insensível. Mas sensibilizar-se com responsabilidade.

Onde se encontra a fronteira que divide o mundo da ajuda com o mundo da facilitação?

Iluminar dez, fazendo-os enxergar suas reais potencialidades, é muito mais gratificante e salutar que proporcionar prazeres e alegrias momentâneas a 10 mil.

Deus não reservará um camarote no céu por esse errôneo comportamento, é provável que ele exija retratações pela colaboração no insucesso do meu próximo.

A melhor ajuda que posso dar ao fraco de espírito, é oferecer a ele o material adequado para que ele possa construir sua crisálida íntima, de onde ele possa um dia alar.

Forte abraço e muita paz.