Vaticínio

Domingo, 13/08/2006 – 21 h e 13 min

Algo hoje me inclina a escrever, seja lá o que for. Talvez pelo mero desejo de exercitar minha caligrafia (que não anda muito boa ultimamente). E sim, sempre escrevo à mão para depois digitá-la.

Vou até a sala, escolho um CD: “Dreamland” do Robert Plant, o eterno vocalista da minha banda favorita, Led Zeppelin. Então passo a folhear minha velha caderneta.

O primeiro registro dela data de 26/08/04 às 23:58, época em que podia me dar ao luxo de dormir tarde, atravessar as madrugadas escrevendo, planejando ou executando trabalhos. Sempre funcionei melhor a noite.

Este registro trata de um esquema simples, embrionário, de um projeto pedagógico que tive que desenvolver em um colégio perto de casa. Tratou-se de uma oficina de RPG.

O RPG (Role Playing Game), em tradução literal significa “jogo de representação”. Surgiu em meados dos anos 1970, nos EUA, oriundo dos jogos de guerra, estilo “WAR”. E é perda de tempo eu insistir em alongar este assunto tentando explicar em poucas palavras do que se trata ou como ele é desenvolvido.

Mas sempre fui bom em ensinar, o que quer que fosse. Talvez a única coisa que não conseguiria ensinar é como fazer uma boa pintura, pois isso nem eu sei. É uma luta desigual, hoje em dia mais do que nunca.

Voltando a questão dos registros, tive duas cadernetas antes desta. É interessante observar como pensava naquela época, como absorvi e canalizei tudo aquilo. E é engraçado o fato de eu ser um artista (por formação pelo menos) e odiar discutir sobre arte. Mas escrevia muito sobre ela, discutia comigo mesmo e com as paredes do meu quarto.

Um dia resolvi fazer um trabalho com estas duas cadernetas. Peguei um tecido, embebi em barbotina (argila em forma de “papa”) e embrulhei cada uma respectivamente neste tecido. Em seguida, amarrei-as com várias voltas de barbante, assim como Christo embrulha suas obras. Após a secagem da argila, passei betume diluído com um pouco de querosene. Ficaram como múmias, guardando parte do meu passado, das minhas eternas dúvidas e incertezas.

Há um filme chamado “A bela intrigante”, no qual um artista famoso que não produzia há muito, encontra uma pessoa que faz com que seu “eu criativo” volte à tona. E então, após muito esforço, pinta a sua obra-prima. Porém, ele não revela esta obra nem ao público fictício e nem mesmo ao espectador. Com a ajuda de seu filho ele esconde a obra em meio à parede do seu estúdio, onde ficará eternamente guardada e revela uma outra pintura como sendo a famigerada obra prima.

O artista como o único espectador de sua obra. Egoísmo ou transcendência?

Mianutti
Enviado por Mianutti em 23/10/2006
Reeditado em 23/10/2006
Código do texto: T271704