SEMPRE NA FRENTE... PARA O PIOR

SEMPRE NA FRENTE... PARA O PIOR

Este “pequeno recanto à beira mar plantado” que se pode orgulhar da história construída pelos seus antepassados é hoje apenas uma sombra, em continuo desvanecer, daquilo que eles projectaram e sonharam.

O orgulho de ser Português está a morrer, e não o afirmo movido por qualquer dose de pessimismo; constato-o no comportamento da maioria dos cidadãos, quais “tântalos da vontade” a quem basta apenas existir, alheios que estão à necessidade ou à vontade de viver e de construir o futuro.

Portugal, tido durante séculos como um dos países mais respeitados do globo; (em 15 de Julho de 1876 o genial Victor Hugo disse a propósito da abolição da pena de morte no nosso País; “de hoje em diante, Portugal está à frente da Europa”), está actualmente reduzido a um lugar de menoridade entre os mais próximos e a caminhar para a cauda das nações de somenos importância, basta atentar para a posição a que os diversos organismos internacionais nos remetem no que concerne a classificações nos vários sectores de actividade, sejam eles da vertente social, educativa, produtiva, de saúde ou outros em que somos quase sempre os primeiros naquilo que devíamos ser os últimos e somos estes quando devíamos ser aqueles dando a entender que lutamos pelo oposto do que seria desejável, saudável e até compreensível e que “o pelotão da frente” do qual queríamos fazer parte está cada vez mais à nossa frente.

Estamos sim no pelotão da frente no que toca a aumento de consumo de droga e consumo de álcool.

Também não cedemos o primeiro lugar (dispensável) no que se refere a acidentes rodoviários ou a novos casos de Sida.

Somos um dos países com mais baixa produtividade, aquele que tem mais mães adolescentes e aquele que dentro da Comunidade abriga mais trabalhadores menores clandestinos (trabalho infantil).

Temos das maiores listas de espera no que se refere a doentes a aguardar tratamento e somos os que temos o salário mínimo mais baixo e a reforma mais mísera.

Continuamos a ocupar um lugar cimeiro nos casos de insucesso escolar, apesar de termos dos professores mais bem pagos na C.E., somos ainda o País onde o abandono escolar é mais acentuado e como não bastasse somos considerados iletrados a crer nos dados emitidos por algumas instituições internacionais.

Ainda que os dados estatísticos não tenham em si um valor absolutamente credível e possam ser discutíveis, são perfeitamente indicadores do estado lastimável a que chegou a sociedade em que vivemos e podem ser entendidos como uma mostra de cartão amarelo não só aos governantes e dirigentes mas também a todo o cidadão que de algum modo se julgar comprometido e responsável pelo actual estado do País.

O rol de más classificações nada abonatórias ao estatuto de ser português, não se limita a estes casos que deviam envergonhar todo o cidadão, outros haverá que não estudados escapam das malhas da estatística, e o balanço que podemos fazer é demasiado pesado para uma sociedade que se pretende civilizada e enraizada numa Europa que nos foge.

Apesar de tudo há contradições chocantes num país classificado abaixo da linha de equilíbrio; temos mais Ferraris que muitos outros povos e temos mais telemóveis que outros países com nível de vida superior, porquê?

Apesar de todo o negativismo e do peso psicológico que ele transporta, há ainda quem use correctamente todas as suas forças e os recursos de que dispõe para atingir os seus objectivos, ainda que elevados, e aportar a um lugar de destaque no sector específico a que se dedica, contribuindo com a sua quota-parte para uma melhoria das condições gerais de vida, embora o oposto seja maioritário; aqueles que se deixam adormecer à sombra projectada por outros e absorvem da sua prosperidade, acomodando-se a uma qualquer posição secundária sem ambições nem projectos de vida ou de futuro e que desequilibram assim de modo indesejável a balança onde nos pesam.

Alberto Carvalheiras
Enviado por Alberto Carvalheiras em 26/10/2006
Código do texto: T273839