O renascer de mim
Uma parte de mim gemia dentro. Algo inaudível. Melhor! Incompreensível. Como se definhasse.
Mas a questão é que a parte calada fazia barulho. Muito barulho.
Quero dizer. Supondo que meu interior estivesse sempre gritando. É de se supor que quando algo ficasse quieto, eu me assustasse. E foi exatamente o que ocorreu.
Corri em busca do "eu" calado para consola-lo. Sei lá eu por que...
Quando alguém está quieto e metido consigo, é melhor que o deixem só.
Mas eu sentia falta da voz desse meu eu.
Já dizia Dom Casmurro:
"Um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde"
Mas e se eu perdi a mim mesma?
Como me consolarei da perda de mim?
É necessário estar morto para calar-se para sempre?
Enfim.. Ruminei aquilo por um tempo e, após muito pensar, preparei um velório e um batizado digno de orgulho.
Sepultei a mim mesma e joguei as cinzas na água santa com que me batizei logo depois.
Assim, pensei eu, renasço das cinzas de mim, berrando como uma criança, e aproveito uma parte do velho eu para construir o novo eu.
E dentro de mim o barulho se refez. Mais íntegro do que nunca.