O renascer de mim

Uma parte de mim gemia dentro. Algo inaudível. Melhor! Incompreensível. Como se definhasse.

Mas a questão é que a parte calada fazia barulho. Muito barulho.

Quero dizer. Supondo que meu interior estivesse sempre gritando. É de se supor que quando algo ficasse quieto, eu me assustasse. E foi exatamente o que ocorreu.

Corri em busca do "eu" calado para consola-lo. Sei lá eu por que...

Quando alguém está quieto e metido consigo, é melhor que o deixem só.

Mas eu sentia falta da voz desse meu eu.

Já dizia Dom Casmurro:

"Um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde"

Mas e se eu perdi a mim mesma?

Como me consolarei da perda de mim?

É necessário estar morto para calar-se para sempre?

Enfim.. Ruminei aquilo por um tempo e, após muito pensar, preparei um velório e um batizado digno de orgulho.

Sepultei a mim mesma e joguei as cinzas na água santa com que me batizei logo depois.

Assim, pensei eu, renasço das cinzas de mim, berrando como uma criança, e aproveito uma parte do velho eu para construir o novo eu.

E dentro de mim o barulho se refez. Mais íntegro do que nunca.

Talita Tonso
Enviado por Talita Tonso em 25/01/2011
Código do texto: T2750424
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