LÁ NO FUNDO...

Entendo o secar de uma árvore ou o murchar de uma flor

Como entendo a míngua da ribeira em tempos de estio

Ou as fatias que adulteram o piso traído pelas chuvas

Só não entendo que a contrariedade afugente o amor

O sentimento seja lançado sem abrigo num baldio

Ficando à sorte dos ventos sem um casaco ou umas luvas

No fundo, lá bem no fundo, até compreendo

Que as forças da natureza desempenhem o seu papel

Por vezes agreste, inóspito, ou belo e sedutor

Só não entendo a vilania do viver como um remendo

A saltitar de angústia como se fosse um carrossel

Vendo o Mundo, lá no fundo, como se fosse um agressor

Aceito a revolta dos mares como protesto à invasão

Os meus olhos deliram com a neve nas montanhas

Ou a corrosão cáustica de sóis ardentes

Só não entendo porque por razões estranhas se perde a afeição

Porque expulsamos calor humano das entranhas

Porque somos seres pensantes coniventes.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 27/01/2011
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