LÁ NO FUNDO...
Entendo o secar de uma árvore ou o murchar de uma flor
Como entendo a míngua da ribeira em tempos de estio
Ou as fatias que adulteram o piso traído pelas chuvas
Só não entendo que a contrariedade afugente o amor
O sentimento seja lançado sem abrigo num baldio
Ficando à sorte dos ventos sem um casaco ou umas luvas
No fundo, lá bem no fundo, até compreendo
Que as forças da natureza desempenhem o seu papel
Por vezes agreste, inóspito, ou belo e sedutor
Só não entendo a vilania do viver como um remendo
A saltitar de angústia como se fosse um carrossel
Vendo o Mundo, lá no fundo, como se fosse um agressor
Aceito a revolta dos mares como protesto à invasão
Os meus olhos deliram com a neve nas montanhas
Ou a corrosão cáustica de sóis ardentes
Só não entendo porque por razões estranhas se perde a afeição
Porque expulsamos calor humano das entranhas
Porque somos seres pensantes coniventes.