Aforismos desaguados

Heraclitianamente dinâmico: só no movimento posso entrar uma segunda vez.

Socraticamente ironizando: saber que nada sei é mesmo estar ignorante.

Platonicamente idealizando: o bem maior continua a ser o cuidado de si.

Aristotelicamente experienciando: se o que toco não é para mim, nem eu sou de mais ninguém.

Epicuristicamente deleitado: creio na dor que tem por sufoco o indizível prazer.

Cartesianamente duvidando: eu escolho; logo sou.

Hobbesianamente totalitário: o outro é uma grande interrogação.

Housseaunianamente utópico: felicidade é quando projetos vão para o singular.

Lockeanamente egoísta: só posso ser um eu em face de um tu.

Kantianamente putirano: manter a integridade é o meu único dever.

Nietzscheanamente forte: o que me mata me mata mesmo porque eu preciso é renascer.

Marxistamente comum: só vale para mim o que também se estende a ti.

Deleuzeanamente livre: tenho na linha de fuga a minha tábua de criação.

Pessoamente fingindo: estou ciente de que não acredito no que vivi.

Raulseixasmente rebelde: faço-o porque sei que será da lei.

Donjuanamente seduzido: em meio a mil caminhos, unzinho é o que tem meu coração.

Verissimamente poetando: busco a mente sadia, e escrevo doideiras que me fazem ébrio de lucidez.

Segundo Veríssimo, “A gramática tem que apanhar todos os dias para aprender quem é que manda”.

Ponto.