Maliciosos sociáveis

* O vidro blindado não vai evitar da perversão adentrar teu carro e se infiltrar em tua pele. A maldade está por todo o lado; nos pontos de ônibus e nos metrôs, cada esquina de espera amargurada, na busca da vingança e nos olhos daquela que não foi amada.

* Nos rostos mais inocentes se encontra, na senhora idosa e na mãe que observa um corpo jovem sem poder evitar o ciúme, vê o desenvolvimento da filha com saudade e rancor da própria juventude. Os olhos se desviam e a mão direita cobre metade do rosto daquela moça recatada e de família. Moça que olhou e desejou o que não devia. Em toda direção a malícia age, está agindo nos corpos que dançam sensualmente, na criança que quer vencer todos os jogos e nas mais pacíficas mentes. O modo como ele corre é para atrair, o modo como ela abre a boca facilmente é pra trair. Não são sorrisos e não são encantamentos, é a luxaria e o atrevimento.

* A inveja também participa adentrando casas e sendo convidada a mesa. Comemos um pedaço de aversão e deixamos a angústia de sobremesa. Engolimos os piores sentimentos e permitimos que se integrem ao corpo. Somos condicionados a querer mais e, naturalmente, a querer o que é do outro. Já é natural a nossa inclinação ao que não é certo, a cometer impunidades com astúcia e presteza. Quase uma parte inconsciente. A falta de harmonia mostra nossa real propensão, porém parecem não querer ver. Socializamos muito bem e nos cegamos diante dos fatos ruins. A coisa toda já se tornou habitual, a exibição desnecessária do corpo e a ostentação das posses. Talvez não tenha sido sempre assim, mas por ora é e continuará por um longo prazo.

* Não importa em quais ruas cinzas ou castelos brancos eu esteja caminhando. A cada passo encontro outros seres humanos que, assim como eu, carregam um lote de pecados. A minha quantia é razoável, coisa que só percebi há pouco. Também demorei para reparar nas pessoas, fazem anos que estou ao redor dessa gente e só há pouco notei como o mais santo possui pensamentos manchados. O mais fiel tem um passado de remorso e o sorriso mais branco pode ser reproduzido com pouco afeto e muita simulação.

* Compreender tudo isso me fez mal, mas não se comparou com a mágoa de te ver também corrompido. Ver teu lado malicioso prevalecendo, teus gestos perdendo a leveza e ganhando substância. Todo teu corpo e movimento agindo com más intenções. Não podia admitir que tua clareza da meninice havia se sombreado. Eu inventei pretextos, refiz teu molde e elaborei tuas qualidades. Muito trabalho para nada, porque tua própria língua deixava explícita o comportamento. Não se dava conta como me parecia desonrado naquela calçada desalinhada.

* Encontrei maldade e perversão em todos os lados, todas as direções, por que não haveria de encontrar também em você?

Priscila Silvério
Enviado por Priscila Silvério em 17/02/2011
Código do texto: T2798346
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