Dois de novembro

Por vezes a saudade vem de longe chega bem perto e assovia... pia, pia e pia nos meus ouvidos e chia... a panela de pressão cozinhando o feijão no fim da tarde se confundindo com o canto da cigarra que ardia lá no galho da árvore... e sinto o aroma do café coado no pano, o bater da colher açucarando, dando voltas e voltas e voltas... era o tempo dando voltas e voltas... na pele o corte, teu santo remédio, no beijo minha sorte.

Ela sorria e dizia: “seis horas, a hora da Ave Maria”... e eu ia prá junto dela rezar. Rogava ao menino Jesus: “ó Jesus que disseste”... água benta, uma vela e um cheiro. Eu seguia com meus olhos seus dedos, na borda do copo o trajeto da cruz...

Prossiga seu caminho em paz, que eu te prometo... não te chamo mais.

Meu Deus é a energia

que abre e fecha meus olhos

que descansa em horizontes

os sonhos do dia

está no meu sono

no meu despertar

está nas minhas águas

nos rios que correm

pelas frestas da alma...

a Ele não atribuo

a culpa, o temor, o castigo

Ele fala comigo

no vento na chuva

na pedra na folha

me aponta ao umbigo

o início, o meio e o fim...

retira a farpa

que a vida crava

alisa a encrespada

trama carmim.