O banido do país do amor

Acho que só quem já viveu sabe. Mas talvez isso seja pretensão de quem pensa que já passou por muito sofrimento. Mas é verdade, minha alma deu cavalo de pau algumas poucas mas boas vezes. É difícil de entender, não cabe na minha estreita mente. Nesses dias a rua pode ser ampla, mas estamos sempre vagando por becos escuros, olhando para o display do elevador, desejando que o número 5 não chegue jamais, que alguma magia secreta nos leve de volta ao nosso país do amor, ao nosso país dos sonhos.

Talvez só quem já viveu sabe. Os objetos e os lugares físicos não têm mais seu correspondente nos lugares da alma, de tudo estão vazios e sem significado. Nada mais parece familiar. O que é ser arrancado do seu mundo e seu mundo arrancado de si. Nem a pior das solidões é tão solitária quanto essa de não ouvir a própria voz.

Quem já perdeu seus amigos mais íntimos e verdadeiros? Quem já olhou nos olhos de um amor e neles não reconheceu um lugar de refúgio? Quem já se apegou a tristeza de uma perda tão fortemente por ser ela seu último laço com o que já se foi e teve? Oh, Deus! Eu já, eu já...

É, só quem já viveu sabe que demora e talvez nunca sare. Pra essas coisas, Deus me livre de um dia não encher os olhos meus de lágrima. Que se forme esse nó na minha garganta e nunca desate!

Que não haja consolo, nem quero ouvir se houver. Quero apenas que vozes caladas consintam com a dor que só conhece quem já viveu e foi banido do país do amor.