TERMINAL...
Mãe
Sinto aqui uma dor tão grande, mãe…
É uma dor tão grande
Que nem lhe consigo medir o tamanho!...
Fumaste tanto, meu filho
Bebeste tanto
Abusaste de uma vida que te foi cruel
Meu amor
Sabes, mãe, eu sei que errei
Sempre soube que errei
Mas eu era tão franzino
Era um Zé Ninguém
As mulheres riam-se de mim
Os homens deliravam
Quando eu cambaleava
Não era eu, mãe, era um palhaço
Mas era feliz porque tinha um lugar
O lugar do palhaço pobre
Descansa, meu querido
A tua voz está tão frágil
O teu coração pulsa lentamente
As tuas mãos tremem sem dares conta
Mãe
Não me peças que morra antes de morrer
Deixa que os meus olhos se percam nos teus
Deixa que leve comigo o teu último sorriso
Aquele sorriso que nunca me negaste
Mesmo quando fumava
Mesmo quando bebia
Mesmo quando pouco dormia
Fecha-me os olhos com os teus lábios
Assim devagarinho, docemente
Vejo-te ao longe, tão perto!...
Agora posso ir
Adeus, mãe
Adeus filho, meu amor.