TERMINAL...

Mãe

Sinto aqui uma dor tão grande, mãe…

É uma dor tão grande

Que nem lhe consigo medir o tamanho!...

Fumaste tanto, meu filho

Bebeste tanto

Abusaste de uma vida que te foi cruel

Meu amor

Sabes, mãe, eu sei que errei

Sempre soube que errei

Mas eu era tão franzino

Era um Zé Ninguém

As mulheres riam-se de mim

Os homens deliravam

Quando eu cambaleava

Não era eu, mãe, era um palhaço

Mas era feliz porque tinha um lugar

O lugar do palhaço pobre

Descansa, meu querido

A tua voz está tão frágil

O teu coração pulsa lentamente

As tuas mãos tremem sem dares conta

Mãe

Não me peças que morra antes de morrer

Deixa que os meus olhos se percam nos teus

Deixa que leve comigo o teu último sorriso

Aquele sorriso que nunca me negaste

Mesmo quando fumava

Mesmo quando bebia

Mesmo quando pouco dormia

Fecha-me os olhos com os teus lábios

Assim devagarinho, docemente

Vejo-te ao longe, tão perto!...

Agora posso ir

Adeus, mãe

Adeus filho, meu amor.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 09/03/2011
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