DE QUANDO TUDO ERA LEVE

Às vezes, geralmente quando estou em casa de minha mãe, tenho reminiscências da infância. Há coisas que ficam congeladas em nossa memória de uma maneira estranha, uma estranheza boa de sentir. Quando escuto certas canções, o tempo de menino surge para mim como quadros pintados nas telas da memória. A cozinha, que hoje é parte do quarto de minha mãe, tinha uma janela virada para o leste. Os raios do sol, ainda sonolentos entravam pela janela, passavam pela porta e iluminavam a sala onde ficava a mesa. Aos domingos meu pai saia cedo para comprar pão na padaria de dona Adélia. Quando eu acordava o cheiro do café e dos pães aquecidos com manteiga na frigideira estavam tomando a casa, era boa aquela sensação. O sol na sala, o café, um prato com pães quentes sobre a mesa e as músicas que o rádio, anos depois, ainda toca nas manhãs de domingo... Lembro de meu pai, que se despindo da imagem “homem bravo” que se orgulhava em ostentar, dançava aqueles boleros, e eu já sentado à mesa e segurando a metade de um pão, ria do espetáculo particular daquele bailarino estranho, que embora barbudo, não era menos criança que eu. Hoje as lágrimas me vêm aos olhos quando recordo tais coisas, lágrimas boas, de contentamento. Uma lembrança de quando meu mundo, por ser o mundo de uma criança e ser completo, era perfeito.

Artsu Taraz
Enviado por Artsu Taraz em 11/03/2011
Código do texto: T2841831
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