OLHAR CINZENTO...

Sei quando um olhar define o momento

A leveza, a intensidade, o desejo

A tristeza implícita

O ódio/amor faseado no tempo

O da chegada

E o da estabilidade

Bebias…

Bebias muito…

O teu olhar era cinzento

Vias a vida e a morte

No mesmo relance

O meu corpo

Postado na tua frente

Era uma nuvem indefinível

As minhas mãos um corrimão

A que rejeitavas recorrer

Porque o teu olhar cinzento

Turvo e embriagado

Via em mim o inimigo

Ao teu estado emergente

Pestanejavas

Cerravas as mãos de raiva

Sentias-te impotente

Balbuciavas palavras

Imperceptíveis

Embrulhadas

A teu lado uma garrafa

Tua companheira de caminhada

Vazia

Muda

Cúmplice

Olhei-te uma última vez

Proferi meia dúzia de palavras

Ternas

Serenas

Propositadamente dolentes

O teu olhar escureceu

Dormias

Disse-te adeus

Já não me ouvias…

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 14/03/2011
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