CAMPOS...

O pó que me escurecia a face

Que me ocultava a cor que define a raça

Me criava um relevo

Como os tecidos da tua pele

Adulterada pelo somar dos anos

Campos…

Os mesmos campos da minha juventude

Com outros pós, com outros ventos

Campos outrora pintados a verde

Das searas

Da esperança

São agora mantos

Agrestes

Áridos

Carreiras de tiro

Onde tomba a fauna

Inanimada

Perecida

Mercado de carnes

Para ‘farras’ de fim de tarde

Campos…

Tapetes que pisei descalço

Que cheirei faustosamente

Que visionei vermelhos

Através de um painel de papoilas

Amarelos

Cor dos trigais em final de gestação

Escuros na noite

Quando os lobos passavam ronda

Campos…

Onde param os campos da minha meninice?

Desertos?

Lixeiras?

Ou armazéns de cimento armado?

Protesto

Quero os meus campos de volta.

Grito, suplico, desespero

Causa perdida.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 15/03/2011
Código do texto: T2849513