Primeiro meio-discurso sobre a predisposição das coisas

A possibilidade de algo ocorrer está intimamente ligada ao arranjo de predisposições que a tornam potencial. De outra forma dito, soando quase banal, nada ocorre sem que, antes, possa ocorrer. Daí se infere que nada na vida - aqui entendida como a experiência compreendida entre o nascer e morrer - ocorre de súbito sem que a isto seja possível ser dada explicação: por trás de cada manifestação há uma causa e, antes dela, a capacidade intrínseca ou adquirida de estar sujeito à tal manifestação.

Tal colocação, trivial a princípio, revela duas dimensões do processo incessante que é viver (ou, preferindo, ser), cuja existência, parece seguro dizer, é inerente ao movimento. Tomando-o (o processo) como teia de possibilidades com um sem-número de ramificações, cada qual representa uma opção possível logo respondida por recusa ou escolha, e, escolhida, instantaneamente ramificada, donde a mesma fórmula passa a se aplicar inesgotavelmente. O par de dimensões que conjuga essa finíssima e quase impensável engrenagem é formado por aquilo que aqui chamo (i)predisposição e pela (ii)causa ou elemento causador. Sem a presença de ambos não há nada que se dê, pois assim como uma inclinação a determinado resultado só se evidencia e se torna fato na medida em que deixa de existir como inclinação por alguma causa, nenhum agente causador concebe, por si próprio, lugar onde se manifestar, sendo que, para isso, faz-se necessária uma estrutura prévia que lhe permita praticar sua ação. Aqui parece importante relembrar que quando se fala em existir, tal conceito está, aqui, atrelado à percepção humana, isto é, falo do que pode ser percebido, não necessariamente do que é.

Pensando nessa estrutura anterior como espaço vazio a ser preenchido pela possibilidade concretizada – o acontecimento propriamente dito – e na causa como elemento que introduzirá, como se por um empurrão, os ingredientes desta receita, tem-se uma boa idéia do modo como se dá essa interação, entendendo-se os ingredientes como partes constituintes da causa, ou seja, causadores. Os efeitos, conseqüentes desta soma, são aqueles resultados alçados à experiência real, e povoam nosso mundo, entrechocando-se, percorrendo os mais diversos caminhos e direções que esta quântica origina em distantíssimos horizontes.

Rômulo Arbo
Enviado por Rômulo Arbo em 08/11/2006
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