Ateu ou à-toa

Isso é o que dizia o finado padre Zé há uns 35 anos, referindo-se à comodidade que é fechar-se numa redoma imaginária do nosso egoísmo só interagindo com pessoas, ambientes e opiniões do “nosso gosto”, “nós (cegos) privilegiados e auto-suficientes que estamos acima da plebe rude”.

É natural passarmos por momentos de identificação ou não com alguma religião, com alguma crença ou descrença, nos revoltarmos com o que fazem, fizeram e farão em nome da religião, mas não acreditar que exista um responsável inteligente pela mecânica desse Universo (ou de outros) dá nuances de ignorância e insensibilidade, ainda mais nos dias de hoje com tanto acesso ao conhecimento disponível e barato.

Mesmo com as simplificações de medidas astronômicas para podermos entender incríveis distâncias, fica ainda difícil imaginar simplesmente a luz de uma estrela, provavelmente extinta a milhares de anos, chegando agora aos nossos olhos.

Fica difícil imaginar, por exemplo, que há novecentos mil sextilhões de milênios elevado à nossa conhecida décima potência tenha surgido um resmungo de bebê, que juntou-se à outros no decorrer do tempo para formar um pequeno choro, depois uma voz, depois um verbo...

Pelo menos para mim, fica difícil imaginar um Big-Bang sem ninguém ter apertado um botão ou acendido um estopim e tudo aparecer assim prontinho com esquemas atômicos e moleculares explicando a ordem do caos.

Fica difícil imaginar um pavão, com o cérebro do tamanho de uma azeitona olhando-se num espelho d’água, desejando aquelas cores para sua cauda e conseguindo, enquanto que nós com o maior cérebro da natureza, quando somos largados dos cuidados da civilização caímos em degeneração e muitos de nós não conseguem nem segurar o próprio cabelo quando mais desenvolver uma crista (tá bom que existiu o Elvis, e existe o Neymar, mas nem todos conseguiram). Não conseguimos nem equacionar alguns problemas relacionados à nossa própria hereditariedade apesar de tanto esforço comum e de não termos tantos tigres por perto como teve o pavão autor da idéia. (creio que naquela época ainda não havia convenção dos pavões).

Muitas soluções, muitas dicas, nós não achamos só no texto principal mas, às vezes, nas entrelinhas e nas notas de rodapé também . Certa vez, há muito tempo, assisti a uma reportagem onde cientistas desenvolveram um sistema de gestos e sinais que permitiu trocar contato com gorilas (ou chimpanzés não me lembro com certeza). Foi deprimente saber que após a conclusão do projeto os mesmos foram abandonados à vida comum de qualquer símio encarcerado e tempos depois quando um dos cientistas foi visitar alguns dos animais, ver a alegria/indignação do animal ao ver o antigo(a) “amigo”. Uma cientista contou que “conversando” com um desses animais, perguntou onde estava a cria que ela havia perdido e ela tristemente disse, apontando o céu, que a filha dela foi morar com o pai celeste. Se a cientista não mentiu (isso passou no Fantástico) eu creio que nós temos o dever de ser mais sensíveis e inteligentes que uma simples macaca.

Pesquisa pós-texto para ilustrar :

a) http://www.youtube.com/watch?v=CJkWS4t4l0k&feature=related

b) http://www.youtube.com/watch?v=t51wYWBH8RQ&feature=related