RESTA O SILÊNCIO...
Falávamos de tudo
Não havia tabus
Da vida
Da sociedade
Da excentricidade
Com simplicidade
Éramos cúmplices
Vibrávamos com a selecção nacional
Os golos… as vitórias…
Passeávamos de mãos dadas
Trocávamos beijos na via pública
Gerávamos sorrisos
Abafávamos o Mundo
Abraçávamo-nos com tanta intensidade
Que chegámos a acreditar
Que o Mundo acabava ali
Um dia, porém, as palavras cessaram
As vogais… as consoantes…
As palavras…
Os ruídos foram dizimados
Já nem se ouve o prato a roçar na mesa
A água corre nas torneiras
Como se fosse neve a tocar o telhado
Sem som… sem sinal de alerta…
A televisão adorna a estante
Já não há selecção
Não há abraços
Não há mãos dadas na via pública
Não há sorrisos
Não há paredes a expiar-nos
Há apenas um amigo comum
O silêncio.