Confidências III

Os cabelos ainda mantêm o mesmo brilho, mas não mais a mesma textura, emboram continuem longos e lembram do tempo juvenil ... Aqueles dias em que a terra molhada tinha cheiro de mato e correr na praça era comum, como borboletas em eterna primavera....

Sentei-me na sala vazia e ecoou em cada canto o riso explosivo da criança de outrora, cuja inocência cobria suas noites de sonho e as lembranças eram doces e aconchegantes, como imensa planície de flores silvestres....

O abraço era forte e terno, e seus ombros moldavam completamente minha face, enquanto suas mãos deslizavam vagarosamente pelas costas e num leve aperto, fazia-me sentir o abrigo e segurança de uma fortaleza...

O piso frio remete-me a realidade... Fixando os olhos nas hélices que giram velozmente, vejo o tempo voraz como um imenso redemoinho, que a tudo absorve... como fagulhas, brilham as lembranças, surgem como flash e se perdem no horizonte, o riso, a lágrima, sonhos, decepções, alegrias, tristezas, o dia, a noite, o dia ... O cabelo preso num rabo de cavalo expõe alguns fios brancos...

Eu já não tenho mais idade para fazer de conta

Sandra Vilela (Eternellement)
Enviado por Sandra Vilela (Eternellement) em 29/03/2011
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