Testemunho cotidiano

Não procede este tempo de dor.

Deixamos escapar os ramos,

a música, as claras conquistas da alma

- para voar sobre os vazios de máscaras

e contemplar, extasiados,

os portões ilusórios dos castelos alheios.

Asas foscas, as nossas!

Asas perfuradas de medos e abismos,

caindo ao primeiro sorriso dos elogios provisórios

que não deixam rastros.

A saudade da verdade é um espinho cotidiano,

que é presença mais do que qualquer perfume.

E nenhuma haste se levanta sem sol e sem água.

Vida é o que falta,

quando a letra arrebenta-se ao chão

com o vento da mentira.

As vestes da palavra me fazem refém de mim mesma.

O que eu preciso é do sonho sem ser areia,

é da palavra sem ser teia,

pois que um só sorriso verdadeiro

a mim dirigido

me vale todos os versos do mundo.