Regenerações mentais

* Não creio que a embriaguez nos leve a ausências de sentidos. O que acontece são percepções distintas, e por não serem regulares se tornam inaceitáveis. Em qualquer estado que possamos jogar fora a lucidez e o raciocínio viciado me parece válido, com a dose do que for para optarmos pelo domínio ou descontrole. Podemos, por exemplo, nos libertar de pudores que acorrentam o comportamento e impedem a exteriorização de um lado diferente. Podemos ser mais sinceros porque abandonamos as formalidades e as regras impostas para um comportamento social. No dia a dia somos forçados a usar máscaras. A embriaguez e a loucura nos permitem arrancar os disfarces. E, o que mais me agrada, é poder esquecer. Tudo que a mente não pode apagar sozinha.

* Eu venho jogando pro alto a minha lucidez e permitindo sensações que nunca imaginei. Se me manter sóbrio para sempre vou endoidecer mais do que nos instantes que paro de representar. Se deixo que a mente descanse de tóxicos e doses ela fica limpa o suficiente para manter memórias. Memórias que me sufocam e que abrigam um diabinho intratável, me faz ter alucinações e me tortura com as cenas. Você retorna por completo quando os efeitos passam. Vem para me fazer sentir culpado e solitário. Por isso cada vez mais jogo a lucidez para longe.

* E essa libertação me faz bem! Essas poucas horas em que não estou preso em nada nem ninguém, posso divagar sobre temas que não se manifestavam, posso ir além sem me perguntar como serei julgado. Pensar deixa de ser um ato grave e passa a ser fundamental. Percebo como no dia a dia somos condicionados a aceitar. A passividade do ser humano agora me enjoa, compreendo a necessidade de se questionar. E também o medo de que nós, seres comuns, questionem e procurem por mudanças. Temos que ser controlados, alienados e obedientes.

* Estas e muitas outras conclusões só foram possíveis porque abandonei o que chamam de normalidade por um tempo. Definem o anormal como aquilo que foge da norma e é irregular segundo as regras. Mas, se não paramos para entender quem e como foram definidas tais regras como aceitá-las? Como saber se são as corretas e justas? Afinal, nunca saberemos com certeza o que é correto e justo. Mais uma vez posso divagar no papel porque não estou completamente são segundo meus amigos e família.

* Não me importo com o que dirão. Se lerem e discordarem, se me chamarem de tolo e concluírem que fujo de meus problemas e aclamo sobre os do mundo, sem forças para mudar ambos. Não me importo porque realmente sou apegado com a tolice e corro pra longe do mal que é minha vida. E se busco ao redor uma resposta é justamente por isso, justamente para entender o exterior que influenciou meu interior.

* Muitas são as razões que me fazem respirar leve ao encontrar com a extravagância... Agora esgotei muito da mente e do físico, creio que devo parar por aqui. Vou me deitar sereno, sentindo o íntimo um pouco mais acrescido. E vou-me bastante contente, pois sei que o repouso será absoluto. Sem diabinhos, sem idéias malucas, sem você na mente.

Priscila Silvério
Enviado por Priscila Silvério em 24/04/2011
Reeditado em 24/04/2011
Código do texto: T2928414
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