Um pouco de verdade

Ah, meu Deus, perdão!

Perdão por tantos anos de mentira,

Por tantos anos de aparência.

Por tantas tentativas de ser o que não sou,

De dizer o que não acredito,

De fingir que faço o que não faço,

E que não faço o que faço;

Perdão!

Perdão, ah, meu Deus!

Meu Deus, tanta coisa escondida,

Tanta coisa tão velada.

Tanta hipocrisia e tanta máscara,

E dizer que fui o que não fui,

E amar aquilo que não amo,

E não amar o que amo;

Meu Deus!

Deus meu... ah, perdão!

Perdão por não ter pecado,

Tantas e tantas vezes que quis,

Mas a farsa falou mais alto:

Pecado algum jamais cometi!

E deixei-me escravizar por mim mesmo,

Em nome do que nunca cri.

Deus meu...

Ah, perdão, Deus meu!

Pela canga que me deram

Na catedral, eu orgulhoso vesti!

Na tola esperança de um dia

Também vestir aos que chegavam a mim.

E fui magro, e fui gordo;

Fui honesto, fui mentiroso!

Por tantos anos de aparência e mentira,

Meu Deus... perdão!