AQUÉM E ALÉM DOR...
Dói-me o peito
Se olhares para mim
Se te fixares na minha expressão facial
Vais rir-te
Defrontada com uma visão saudável
Equivoco…
Porque me dói muito o peito
Dói-me naquela parte
Onde se anicha a caixinha da sensibilidade
Dores de alma
Que ferem muto mais que um golpe de lâmina
Ou um tiro com arma de precisão
Precisão que nos atinge as vísceras
Dói-me o peito
Mas dói-me aquém e além dor
Dói-me ver bígamos
Casados com a fome e a sede
Dói-me a antevisão e a conclusão
Sem meios-termos
Apaziguadores
Conformistas
Mestres do faz de conta
Para quem não se passa nada
A não ser o embelezamento da pele
Com o que sobra
De quem já não tem pele
Com as palavras de quem já não tem boca
De quem a saliva já não escorre pela garganta
Que se vale das mãos
Esqueléticas e difusas
Para tapar os olhos de quem não quer ver
Aquém e além dor
Espaço único de reflexão
Peito cansado
Alma humedecida
Olhar perdido na escuridão da vida.