AQUÉM E ALÉM DOR...

Dói-me o peito

Se olhares para mim

Se te fixares na minha expressão facial

Vais rir-te

Defrontada com uma visão saudável

Equivoco…

Porque me dói muito o peito

Dói-me naquela parte

Onde se anicha a caixinha da sensibilidade

Dores de alma

Que ferem muto mais que um golpe de lâmina

Ou um tiro com arma de precisão

Precisão que nos atinge as vísceras

Dói-me o peito

Mas dói-me aquém e além dor

Dói-me ver bígamos

Casados com a fome e a sede

Dói-me a antevisão e a conclusão

Sem meios-termos

Apaziguadores

Conformistas

Mestres do faz de conta

Para quem não se passa nada

A não ser o embelezamento da pele

Com o que sobra

De quem já não tem pele

Com as palavras de quem já não tem boca

De quem a saliva já não escorre pela garganta

Que se vale das mãos

Esqueléticas e difusas

Para tapar os olhos de quem não quer ver

Aquém e além dor

Espaço único de reflexão

Peito cansado

Alma humedecida

Olhar perdido na escuridão da vida.

Ângelo Gomes
Enviado por Ângelo Gomes em 10/05/2011
Código do texto: T2961390