Réu Confesso

Eu sinto uma falta, mas uma falta imensa...

Falta de não sei o quê, mas essa falta que tenho me aperta o peito, e me causa dor.

Por mais que eu pense e tente chegar a uma conclusão do que me falta, tudo me parece vão ao chegar da conclusão.

Eu não sou sozinho; tenho amigos, irmãos, família, e uma infinidade de conhecidos, mas o que me falta eu não sei.

Sei que na maioria das vezes me sinto sozinho.

Me pergunto se seria um amor?

Talvez...

E por mais que me pareça aterrador, ou até mesmo incompreensível, eu tento esconder com um sorriso de: “Tudo está bem”

As minhas dúvidas e incertezas cada vez mais me assombram, minha ansiedade se manifesta e eu não consigo pensar no que será de mim.

Como vai ser o meu futuro? Essa coisa que se alterna entre o distante e o perto, entre o bom e o ruim.

De vez enquanto, alguma coisa do meu passado peralta vem me consolar, as boas lembranças, e as coisas vivi e deixei de viver.

E me sinto como um tronco no rio, sendo levado pela correnteza e caindo em meio uma cascata de medos e anseios, como se nada na minha vida fosse programado, como se eu não conseguisse tomar nenhuma decisão por mim.

E por mais lágrimas que meus olhos possam ter, por mais tristezas que este velho peito carregue, de alguma forma, algo me diz que a minha hora um dia chega.

Uma esperança.

Um sopro de ar pela janela.

Isso é algo em que eu devo acreditar, é algo que eu realmente tenho que ter confiança.

Na mudança.

E eu flerto com ela como alguém que olha para uma imagem de gesso, ou simplesmente segura um terço para exercitar a sua fé.

Eu olho para trás e vejo aquele menino de outrora, aquele garoto irresponsável, de muitos sorrisos e de companheiros e parcerias inesgotáveis, e chego a conclusão de que parte daquele menino se perdeu, não pelo mundo, mas se perdeu em mim.

Às vezes eu sou tantos, que ele deve ter corrido assustado, ou com vergonha dessa pessoa que me tornei.

Eu me olho no espelho, e vejo qualquer coisa, menos eu.

Mas no fundo de meus olhos, no fundo de minh’alma, eu tenho ele comigo. Ainda que tímido ele as vezes volta, como não podia deixar de ser.

É só mesmo então que volto a sorrir novamente.

Aí, é quando eu consigo sentir o gosto das coisas, da vida, sentir o calor do sol.

O que é triste, porque, depois disso ele se esvai entre meus dedos para se esconder novamente dentro desta pobre e podre carcaça que aqui escreve.

E cada vez mais, eu me sinto um assassino por ter matado aquele garoto, é. Aquele mesmo.

Considero-me culpado, e cada vez mais culpado por esse crime horrendo, me sinto um monstro.

Na hora de apunhalá-lo, não hesitei.

Eu provei o gosto do sangue em minha garganta, eu senti a dor daquele pobre diabo.

Mas, somente depois, depois de tudo é que eu fui notar quanta falta ele me fazia.

O único gosto, ainda na garganta é o do sangue.

E a dor que sinto hoje, consegue ser maior ainda do que a dor que senti enquanto revirava o punhal no peito.

- É só.

Marcos Tinguah Vinicius
Enviado por Marcos Tinguah Vinicius em 23/05/2011
Código do texto: T2988960
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