Compulsão alimentar: fraqueza ou problema?

Alguém passa pela experiência de, de repente, sentir vontade de devorar tudo o que aparece à sua frente? Será que, se sente essa vontade, diz a si mesmo que tem que ter força de vontade, que ser forte e não ceder ao impulso mas, quando vê, já está comendo como se não comesse há dias? Como qualificar isso? Alguns chamam de gula, dizem que é fraqueza e falta de controle sobre as vontades. É desagradável, não é? Além de se sentir culpado por ter cedido, ainda mais que você sabe que ingeriu muito mais calorias do que precisava, você tem que aguentar os comentários dos outros, que dizem: você só pensa em comer. Eu mesma já ouvi isso demais. Como se o meu cérebro apenas tivesse registradas as imagens de chocolates e guloseimas nele.

Será que é só fraqueza? A gente sabe que não deve fazer, que prejudicará nossa saúde e silhueta mas, quando nossa vida está insatisfatória e a gente não tem com quem compartilhar nem quem nos entenda, a gente não tem como expressar nossa angústia por nada na nossa vida estar dando certo, por nos sentirmos presos e acorrentados a um círculo vicioso e do qual não conseguimos sair, por mais que lutemos. Então, a gente já pensa em como um pedaço de chocolate nos ajudaria a diminuir a ansiedade que nos sufoca. Depois, a gente comeu muito mais do que um simples chocolate. Devorou um pacote de biscoitos, uma taça de sorvete e muito mais do que conseguiria citar. Vem a culpa, a gente se acha fraca e pensa que, quem diz que a gente não tem força de vontade tem razão.

Há os que dizem que é compulsão alimentar, um distúrbio. Quem devora chocolates e bolachas é como um fumante ou alcóolatra, ou seja, é doente e precisa se tratar. Comer demais não é simplesmente fraqueza ou gula. Ouvir isso nos alivia um pouco, porque poucos são pacientes com quem come feito um esfomeado. Acham que é um sem-vergonha sem educação, alguém que vive para comer. O pior é quem lembra que a gula é um pecado capital. Aí é que a gente se sente torturado. Além de aguentarmos quem diz que nosso problema é sem-vergonhice e não um distúrbio, ainda temos que aguentar que somos pecadores.

Nós não queremos comer demais, mas comer normalmente e de maneira saudável. Acontece que é como se outro ser, mais forte do que nós, mandasse a gente se empanturrar e, quando percebemos, já é tarde. Comemos tudo e muito mais.