eu, mim, eu, mim, eu, mim

A suposta tendência natural (empiricamente mal-observada por este que tem a pachorra de escrever publicamente) dos indivíduos que convivem naquela esfera - a qual chamamos de sociedade - é centralizar todas as diversas situações em si mesmo. A vivência, ou convivência com outros da mesma espécie, ou sabe-se lá o que mais, não costuma ser o bastante, e, portanto, é preciso alimentar todos os possíveis acontecimentos, que podem ser resgatados pela memória, em intermináveis discussões que apenas vão terminar nelas mesmas com um belo quê de superficialidade; o falar por falar ganha corpo apenas ou para satisfazer as necessidades individuais de falar sobre si mesmo, ou então para buscar algum tipo de justificativa que isente o indivíduo de qualquer suposta culpa de qualquer suposta coisa inacreditavelmente desinteressante que possa ter acontecido.

Quantas vezes escutamos o semi-onipresente pronome "eu" sendo produzido por cordas vocais alheias de maneira quase perene nas esquinas das ruas do mundo, com o tão somente propósito de se vangloriar nauseantemente por qualquer porcaria de bem feitoria irrelevante ou então por qualquer atitude bravamente digna de um bocejo ou simplesmente de ser ignorada. E é claro, os complexos de vítima que formam precipitados bastante indissociáveis quando o assunto é promover um marketing pessoal baseado em dizer a todos o quanto este indivíduo vitimizado (por ele mesmo) é perseguido por ser tão bom, ou por ser tão bom, ou, ainda, por ser bom, extremamente bom. Bom, que mal. Isso, definitivamente, não é bom. Lamentável, eu diria. Estupidez? Por que não?

Claro que falar de si mesmo deve ter lá algum valor, em algum momento que seja crucialmente importante, como compartilhar experiências de vida que possam contribuir ou, ao menos, divertir algumas pessoas supostamente legais apenas pela falta de assunto corrente nas mentes esvaziadas pela inércia intelectual. Falar de si mesmo é bom. Pode ser. Falar só de si mesmo. "Sou demasiadamente bom, vítima, invejado, idolatrado, imitado, engraçado, feliz o tempo todo. Bom, se a psiquiatria, ou a psicologia, ou a terapia, ou a lobotomia, ou assistir reality shows têm realmente alguma credibilidade de tratamento efetivo, que assim seja para termos um pouco menos de "eus" e "mims" circulando pelas rodas de conversa ou seja lá o que for.