Sobre o que seria maturidade ou algo assim

Vejo palavras que reconheço brotarem da folha em branco. Não são novas, não são frescas, curtas ou longas. Mas de tão equilibradas, nem mesmo a mais prolixa delas,rebuscada,ganha ar de extravagante.Tampouco de simplórias, não senhor!

São palavras que sempre estiveram ali, no papel vazio, esperando por mim. Palavras conhecidas e que mesmo assim me causam espanto. Assombram. Espécie de assombro bom.

Contudo, não me venha dizer que amadureci. Não. Sou a mesma de antes. Não mudei pra melhor. Já gostava do que meus olhos viam nas folhas em branco, nos rostos vazios. Gostava de como minhas mãos tinham vida própria e não recebo bem a idéia de haver mudado, de amadurecer. Adorava-me ,aceitava-me. Quer mais maturidade que essa?

Mas,fato: há pouco passei pelo inefável. Pura sensação sem descrição capaz. E quando de lá voltei, ouvi isso de parecer mais madura. De estar mais, de ser mais.

Ora, já era prosa e poesia em consenso antes disso. Já via palavras e gestos e rostos e "is" antes, muito antes. Eles já estavam aí antes de decidirem achar em mim alguém mais maduro. Antes d'outrem encontrar exposto na minha fronte, já eu os lia em voz baixa.

Porém, reconheço: hoje, tais achados são companheiros. Mais que objetos inanimados de adoração, são amigos para o chá das cinco. Não trabalho para minhas palavras, não as temo, não lhes dou o dízimo, não as ostento como ouro fora de mim, aparte de minha natureza, adquirido com o tempo.

Como nasceram comigo, sempre estiveram tentando fazer ver que ser maduro não é tornar-se outrem e sim conseguir ficar à vontade com o que não se vê em si. Aconteceu algo...coragem para ser o que se é de verdade com mais frequência.

Juliana Santiago
Enviado por Juliana Santiago em 12/06/2011
Código do texto: T3030655
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