Aconteceu no buzão 2

Antes mesmo de discorrer acerca do que aconteceu, novamente, no buzão, é necessária uma ligeira explicação: buzão, como se diz em Venda Nova (BH), é balaio, que é ônibus.

E aí vamos nós.

Dia desses, quando o buzão seguia pela av. Cristiano Machado, duas mulheres discutiram em seu interior. Foi briga feia.

Tudo ia calmo, muita gente dormindo, inclusive, esse que vos escreve. Num determinado lugar, uma mulher, que estava sentada, como Romário, na janela, levantou-se para descer. Chamaremos essa mulher, que não conheço, de Tuta. Como todo bom ônibus cheio de se preze, ao lado de Tuta, estava sentada outra mulher, que, também, não conheço, que, aqui, chamaremos de Tonta.

Tuta, como pessoa educada que é, levava, em seu colo, a bolsa de uma outra mulher, que estava em pé, ao lado de Tonta, no corredor. Essa mulher que seguia em pé, aqui será chamada de Serena.

Tuta, ao levantar-se para dar sinal e descer, pediu à Tonta, já colocando em seu colo a bolsa de Serena, antes mesmo de ter a aceitação de Tonta, que segurasse a bolsa de Serena, até que ela se sentasse ao lado de Tonta, cujo lugar estaria, a partir daquele momento, livre.

Tonta, por sua vez, sentindo que fora forçada a praticar algo que não quis, porque, desde o início, não pegara a bolsa de Serena, mesmo estando sentada na cadeira do corredor, não aceitou aquela situação, armando-se, assim, o grande barraco.

De um lado, Tonta dizia “você me respeita”, enquanto, de outro, Tuta lhe chamava de “sem educação”. E a coisa foi esquentando. Enquanto o ônibus seguia o seu curso, Tuta e Tonta continuavam a discutir. Serena, por sua vez, já com sua bolsa, pivô de toda a história, nas mãos, nada falava, mas acompanhava tudo de perto, eis que estava “em cima do lance”.

De fato, tudo foi muito rápido. Mas quando a coisa acontece, parece que dura uma eternidade.

Num dado momento, enquanto todos do ônibus estavam atentos ao desenrolar dos fatos, Tuta, que já estava em pé, em direção à porta, mas ainda discutindo com Tonta, e as palavras cada vez mais ofensivas, apesar de que, pelo que me recordo, nenhum palavrão fora dito, retornou, em direção à Tonta, com o objetivo de lhe demonstrar força e raiva. Tonta falava, Tuta retrucava.

Tuta, então, diz à Tonta que carregaria até a sua bolsa (de Tonta), quando esticou o braço em direção à bolsa de Tonta. Esta, por sua vez, segurou a bolsa em seus braços e disse que, se Tuta a pegasse, chamaria a polícia.

Depois de mais um bate boca e uma ofensa verbal, Tuta senta-lhe a mão na cara de Tonta, que, além do tapa, ainda tem o seu pescoço espremido pela poderosa mão de Tuta, que a empurra contra a janela, porque Tonta, quando Tuta levantou, sentou-se à janela.

Nesse momento, ninguém mais, ninguém menos, que Serena, usando de seu braço direito, espreme Tonta no banco do ônibus, contra a janela, como quem a defendesse, mas, muito mais, para lhe impedir de reagir aos ataques de Tuta, talvez, como forma de ver Tonta, que não carregara sua bolsa e nem aceitara fazê-lo, “levar aquilo que merecia”.

A coisa não durou muito e a turma do “deixa disso” separou Tuta de Tonta.

Tuta, ao descer do ônibus, ainda “tirou uma onda” com a cara de Tonta, rindo desta, em razão do que lhe fizera e sentindo ter o apoio da turma do buzão.

Tonta, muito nervosa, chamou Tuta, pela janela, de “burro de carga”, pelo fato de Tuta carregar a bolsa de alguém que estava em pé.

Uma das frases que me recordo de ouvir Tonta dizendo foi “eu acordo às 05:00 horas, para poder vir sentada, quem quiser faça o mesmo”, talvez como forma de informar à Serena, que se ela quisesse, viesse mais cedo, pegasse o ônibus no seu final e se sentasse, a fim de que ninguém tivesse de carregar sua bolsa. Os fatos se deram por volta das 07:20 horas.

Após a descida de Tuta, Tonta se acalmou e não disse nem ouviu nenhuma palavra mais.

Aí começou outra discussão. Agora, mais educada. Alguns questionavam que Tonta deveria, sim, carregar a bolsa de Serena. “O que que custa?”, murmuravam uns. Outros diziam: “ninguém é obrigado a carregar nada pra ninguém”.

E a vida continua.

Moral da história: “se você estiver dentro do buzão e tiver a chance de carregar a bolsa de alguém, para se livrar de tapa na cara e apertar de pescoço, não hesite, carregue a bolsa”.