Identidade (Severina)

Mas as quantas andam a cara do povo.

Se ligo o rádio ouço alguém cantando que é o seu cabelo, ou que deve se sentir vivo como fogos de artifícios.

Mas a quantas andam a vida desse povo?

Antes era uma vida Severina que tocava nossas almas.

Aquela vida Severina que morre de causa morta, como tantos outros.

Agora me parece ser que cada um quer ser um. Não são mais Severinos então?

Me parece que o alvoroço está em ser o mais que o outro, e esse que é mais, todo mundo aclama. O engraçado é que quem aclama não deixa de ser outro.

Pode ser uma falta de modernidade em mim, mas ainda gosto da vida Severina.

Não que seja ruim querer pra si o que não cabe em nós, mas de imagem admirada não se constrói a que reflete no espelho.

Afirmar quem eu sou é difícil com tantos eus por aí, sou Severino. Ou Manuel, não sei.

O que não posso é mandar alguém ser eu, ou ser alguém.

Eliézer Santos
Enviado por Eliézer Santos em 16/06/2011
Reeditado em 16/06/2011
Código do texto: T3039535
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.