A paz dos tímidos

Aqui estou soturno com meu imenso dilema.

Sinto fome, sinto sede, sinto frio, mas por mais que eu coma,

beba e me acoberte, não me satisfaço.

Veja, imenso Mar, eu lhe ofereço o meu corpo para continuares a vingar.

Uma alma que nada mais tem a oferecer de útil, merece ter seu corpo queimado!

E já que o fogo está ocupado a ungir o coração dos amantes realizados,

Me consuma mesmo o senhor, Oh! Mar.

De milagres quero ser afogado.

Pois de carinho este peito nunca foi afagado.

Não tem mais esperança esta alma que lhe fala,

Não quer teimar, não quer discordar,

Não quer discutir nem quer acordar;

Quer um seio doce, quer amar.

Alma, pobre Alma, não se deixe cair na tentação de acabar-se:

A melhor forma de resolver os teus problemas não é deixar de existir.

Não temas a fome, não temas o frio

Nem a maldade que pode ter uma pedra a se calar.

Pois, a voz que se cala é a que tem medo de falar,

Não é a que quer te agredir nem a que quer te matar.

Veja o Mar. Parece sempre calado, parece sempre calmo...

Mas, sua calmaria costeira não é a mesma de seu interior,

Como uma pessoa tímida ele pode se tornar afável e ao mesmo tempo tenebroso.

As ondas batem na costa com calma, com Paz,

Mas, no alto mar,

As ondas imensas das tempestades arrasam as caravelas que vêem pelo caminho.

A paz do mar é falsa, como a paz dos tímidos.

Estes são puros e são castos; inteligentes e hábeis.

Não deixam a sua expressão se desesperar,

Mas o contrário acontece com a alma que se enlaça, desenlaçar, quebra, corta-se...

Lembro duma estórias que os antigos contavam,

Que no duelo do Amor contra o Ódio, este último venceu.

Ambos são fanáticos, ambos falam demais, ambos se guardam,

Mas o Ódio se guarda e um dia uma centelha o tira de dentro da alma;

O Amor nasce e morre no peito dos tímidos.