Quando alguém morre

Wilson Correia

Sempre quando alguém morre, qualquer alguém, a cantilena é a mesma: “Foi uma grande perda”, “Deixa um vazio”, “Fica uma lacuna”.

Quanto à perda, como só podemos perder algo que possuímos, não sei como alguém pode ter a sensação de ter perdido alguém. Com gente a gente se relaciona, meu camarada. Gente não é coisa e, desse modo, não pode ser perdida. Em lugar disso, que tal destacar os ganhos que a vida finda trouxe aos homens e mulheres e à sociedade em movimento que ficam?

Que vazio pode deixar um ser humano que nasceu, viveu e se foi? Não é esse o script de toda existência humana no mundo? Por que não realçar os espaços que o finado ocupou, preencheu e significou enquanto vivo era entre nós? Quando alguém se vai não deveria haver vazio, mas mentes cheias, até o ladrão, do sentido que aquele companheiro ou companheira representou.

Que lacuna alguém pode deixar, se o plano de toda vida de homem e mulher é nascer, dedicar-se a um trabalho e se preparar para morrer? Que lacuna, cara pálida, se esse roteiro é conhecido de todos nós? Ninguém pode vir, viver e ir tranqüilo ou tranqüila, livre do peso de sentirmos que sua ida é uma perda, vazio ou lacuna? Quando é que aprenderemos a aceitar a vida como ela é?

A finitude humana diz que todos um dia morreremos e, na hora da morte, não é o melhor momento para santificar ou diabolizar ninguém.

Celebrar o que a pessoa foi e fez seria muito melhor! Aí haveria alegria, porque significou um ganho, uma presença que nos preencheu de algum modo um espaço ôntico que outro ente não o faria igual.