Tensões e pretensões

* Meu joelho se curva em dores, protestos, as tensões prévias... As pernas imobilizam, não reclamam mais, agora são os pulsos que comprimem minha circulação. Abro os olhos e vejo sombras, peito arquejante, respiro sem tubos mas pareço anestesiado...

* Calma, peço à mente muita calma... Deixo o sol torrar minha cabeça e infiltrar meus poros. Pronto... Passou a instabilidade física, percebo com tristeza que a dor permanece e compreendo que ela não é minha, mas sim de todos. A fraqueza que eu sinto ao observar homens sem casa, sem roupa e sem comida, o modo como meu peito se tortura ao ver crianças carentes e jovens sem mentes... A falha em minha respiração toda vez que carros se chocam, pais abusam e maltratam, furacões rebatem e destroem famílias. Ajoelho com dores impositivas, como se fossem feridas que adquiri em minha caminhada, feridas por descuido, mágoas de alguém que andou rumo ao nada e se deparou com os absurdos. A trajetória me deu forma, parte de mim é aniquilada, sou quase totalmente triste.

* Inquieto, sou acelerado novamente, digo que sou capaz. Somos todos aptos a compaixão, possibilitados de edificar, de cuidar. Toda essa pré-tensão que nos leva a pretensão de poder mais. Novos tombos, me curvo, não consigo achar forças em meu copo de bebida. Muitas vezes me odeio por sentir tanto, por carregar hematomas que não são meus. Em outros momentos me sinto leve e premiado, com olhos bem abertos, a mente clareada me dá a chance de mudar.

* Mas que graça tem? Qual o seu tamanho? Quem está se importando? - diz o diabinho em meu ombro. Atenta meus pensamentos para que eu sempre opte por esquecimento, negligência e egoísmo. Em certas ocasiões bastou um sopro para dissipá-lo, em outras ele me torturou noite adentro e acabou vencendo...

* Eu me importo, o mundo é repleto de graça, sou pequeno mas são justamente os pequenos gestos que me mostram o que vale. Um sorriso de gratidão assim como a oferenda de uma mão valem mais. Pequenas esperanças deixam o ódio e mágoa para trás. Há períodos que consigo não lembrar, dias em que sou imune, em que sou quase totalmente feliz.

Priscila Silvério
Enviado por Priscila Silvério em 24/07/2011
Código do texto: T3116038
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