O CARNAVAL: ONDE ESTÁ O EGO?

O carnaval no Brasil é tido como uma das festas mais populares que seduz e encanta a todos em todo o mundo. Até os menos simpatizantes aderem a este compasso cultura, “marca” do brasileiro. De bailes, folguedos e brincadeiras com simples máscaras, em sua origem, torna-se hoje um dos maiores espetáculos inebriantes. As escolas de samba com seus aparatos esteticamente abrilhantadores; os corpos vestidos com ricas e sedutoras fantasias; pessoas levadas pelo frenesi estonteante das músicas e ritmos fortes; a euforia das letras; a beleza apoteótica dos grandes carros; cores e luminosidades fosforecendo nos olhos de todos; a mídia cobrindo tudo impecavelmente a todo momento sem descuidar de nenhum detalhe, para que todos possam acompanhar atônitos todo esses acontecimentos do Norte ao Sul e Leste a Oeste. É neste clima exterior que fomos levados a passar esses dias.

Passado o período fervoroso e eufórico do carnaval em que o “id coletivo” esteve à solta, inclusive patrocinando paradoxais campanhas de superação de preconceitos contra as mais variadas e confusas orientações sexuais e tendências, com clichês políticos de “superego social”, limitadoras da total devastação em massa, somos levados a pensar que este acontecimento trás em seu bojo o velho conflito psíquico e estrutural entre o superego e o id, para sujeitos éticos sem “egos” ou bem fragilizados.

Até que ponto estas campanhas de ordem (superego), em ritmo de carnaval (id), não são vãs por quererem impor um paliativo às pessoas fixadas que não conseguem perceber seus limites? Nesses nossos tempos de pós-modernidade em que a inteligência humana é engolida pela exacerbação subjetivista e o culto imediato do prazer sem referenciais éticos humanos, o ego é açambarcado e bombardeado pelas mais variadas e plurais idéias de explorar ao máximo o prazer sem levar em conta os limites humanos historicamente garantidos pela consciência humana em sua evolução. O que será das gerações vindouras?

Jean-Claude Guillebaud, em seu inédito livro “A tirania do prazer”, percebe as contradições e tendências de uma total liberação do princípio do “id” dominador de todos os meios humanos. Situando-nos para dentro do marcante Maio de 68 ele constata que “nenhuma sociedade havia consagrado ao prazer tal eloquência discursiva”. Uma primeira pergunta se impõe: por que? A quem interessa, ou a quem serve esse sexo tão badalado e produzido? Quem ganha com essa sexualidade que se reifica e se vende?

No carnaval brasileiro se convergem idéias acerca dessa tirania do prazer. Podemos nos perguntar: se Freud estivesse vivo e morasse no Brasil, o que ele diria sobre o modo como as pessoas vivem suas pulsões? São pulsões de vida ou de morte? Ele não se encontra mais vivo; por isso somos convidados a ser seus interlocutores e hermeneutas nessa árdua tarefa psicanalítica de ajudar as pessoas a se encontrarem, tirando suas máscaras carnavalescas e saindo dos estridentes barulhos, para no divã repensar e restabelecer a vida.

André Boccato
Enviado por André Boccato em 28/07/2011
Código do texto: T3125023