Ressaca mundial

* Saias curtas, créditos longos, isso tudo me parece tão vulgar, mas se todos estão de acordo quem sou eu para julgar?

* Mais uma sexta-feira, tem que ter uma bebedeira, a mente sendo corroída e a batalha dos cidadãos perdida. O mundo nessa guerra permanente, não percebemos o quanto isso comprometeu a nossa mente. Outra língua, outro entendimento, jovens carregando o seu armamento. Não sabem por que lutam ou por que sofrem, as lágrimas convertidas em braveza. As mães solitárias, sozinhas na mesa.

* Eu sigo, sigo, vou olhando e buscando aprovações, no entanto os trabalhadores continuam enfrentando privações. Trabalho, casa, televisão, jantar e contas pra pagar. Ainda assim, juram que somos livres. Ainda assim, pode escolher seu celular e sua roupa. Ainda assim, esquecem o amor e beijam qualquer boca. Ontem não dormiu pensando na fatura alta demais, chegou a data de vencimento. O corpo esgotado, mas segue pro emprego pois precisa daquele aumento. O professor falou e você nada mais pode fazer além de concordar, afinal são muitas tarefas e uma só nota para te avaliar. A televisão não tem mais jeito, infiltrada por teu governador e prefeito. Ainda assim, juram que somos livres...

* Eu sigo, sigo, vou percebendo a leviandade. Como palavras grandes não alcançam mentes pequenas. Como as meninas preferem estar bonitas e alheias, os meninos optam por quantidade a qualidade; e todos nós sorrimos e fingimos que aqui há irmandade. Futebol e carnaval, o Brasil nunca jogou mal, apenas um desfalque e um deslize, mas nada que nos prejudique.

* Eu sigo, eu sigo, encontro uma sombra e sei que é com muito sangue que os prédios foram erguidos. Acidentes, trajetórias e homens esquecidos. O nosso dinheiro suado, sendo usurpado, os outros países parecem sempre mais felizes... E na violência infindável já não importa que as armas sejam feitas ali, em todo lugar o medo é inabalável, adianta prosseguir?

* Mais uma sexta-feira. Hora de esquecer tudo, fingir que é outro mundo. Não há males, é o fim da corrupção, pede outra bebida que estou com o cartão na mão. Não consigo sorrir nem simular, tomei um porre da realidade, e só essa dose que te faz acordar, te traz uma ressaca da verdade.

Priscila Silvério
Enviado por Priscila Silvério em 28/07/2011
Código do texto: T3125223
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