Eu Quero chorar!

O bebê acordou!
Ouvi o eco de uma voz estridente e assombrada que percorria o corredor que ligava a cozinha ao quarto onde eu dormia. Era alguém da família irritado com meus grunhidos.
Misturado aos carinhos que recebia, nos momentos em que eu precisava chorar sempre me alertavam sobre o boi da cara preta. Outras vezes ouvia falar sobre um homem estranho, maltrapilho que também me levaria para bem longe, caso eu não parasse de chorar.
Como sabiam que eu não queria ser levado para nenhum lugar?
Como sabiam que o silêncio era o melhor naquele momento?
Como sabiam da existência do boi?
E o homem estranho? De onde viria?
Sentia-me um ser meio que sem importância com meu pranto.
Abandonado em qualquer cômodo de qualquer casa.
Tomado de sustos e absurdos, puseram-me a esperar.
Por isso não conseguia parar, sentia prazer e alívio pranteando.
Naquela idade era o que eu mais sabia fazer.
Hoje na idade adulta ainda quero chorar para alguém.
Alguém que não me interrompa e não me assuste com seres imaginários.
Quero chorar o lamento contido na infância.
Deixe-me chorar para você!
Porém se não quiseres ouvir meus lamentos.
Quero a companhia do boi. Sua cara preta não me assusta mais.
Ou então que me leve o homem estranho.
Eu quero chorar! 

Deddy Antonio Izottoric
Enviado por Deddy Antonio Izottoric em 02/08/2011
Reeditado em 17/05/2012
Código do texto: T3134395
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